CDI e SELIC? O que são? Entenda de uma vez por todas!

Se esse não é seu primeiro artigo sobre o tema Taxa Selic e CDI, imagino que você tenha ouvido repetidamente em diversos outros sites que: Taxa Selic é a taxa básica de juros e que serve para balizar todo o restante do mercado financeiro, inclusive títulos do Tesouro Direto; e o CDI é a taxa praticada entre bancos e usada para referenciar títulos privados como CDBs, por exemplo.

Não há nada de errado nessas denominações, mas acredito que possamos aprofundar um pouco mais tecnicamente esse assunto sem complicar em demasia. Assim eu espero!

Quero com esse artigo explicar o que é o CDI, porque ele existe, como é definido, sua importância e então fazer um paralelo com a Selic. Vem comigo!

O funcionamento de um banco

Entenda um banco como sendo uma empresa, e para isso, como qualquer companhia, é preciso ter caixa (dinheiro disponível). Você mesmo, se não tiver dinheiro em caixa, como fica?

O core do banco é trabalhar captando, emprestando e pagando montantes financeiros. São operações que ocorrem milhares de vezes ao longo do dia. E, todo banco, ao fim do dia precisa fechar seu caixa.

Vamos supor que em um determinado dia o banco teve mais depósitos do que saques, seu caixa ficará positivo; do outro lado um outro banco pode ter tido mais resgates do que depósitos e então ter seu caixa ficará levemente negativo.

Nesse sentido, ao fim do dia o xerife chamado Banco Central solicita a situação do caixa de todas essas instituições financeiras. O banco precisa ter seu caixa positivo, ou meramente no zero a zero. Isso é uma determinação.

Vamos imaginar um banco chamado ABC, e que, ao fim do dia ele reporte ao BC: olhe, a coisa não está tão boa, estou fechando o caixa com R$ 20 milhões negativos.

Nesse momento o Banco Central analisa a situação e dá uma negativa da situação ao banco. Nenhum banco pode virar o dia com o caixa negativo. Tente imaginar você como cliente do banco, chegando no caixa, solicitando resgate e recebe a notícia de que não há dinheiro.

Continuando nossa historinha, o banco ABC afirma ao Banco Central que está tudo sob controle, uma vez que, apesar do caixa negativo em R$ 20 milhões, ele tem posse de R$ 30 milhões em títulos de investimentos. O banco teria o seguinte cenário:

BancoABC
Caixa-20 milhões
Títulos+30 milhões
Saldo+10 milhões
Exemplo de encerramento de caixa

Opa! Então está tudo certo! O Banco ABC tem um saldo positivo, certo? ERRADO! O Banco Central não cai nessa história. É preciso ter dinheiro em caixa, e não títulos.

Tente imaginar um cliente chegando no dia seguinte ao banco, solicitando resgate, e o caixa imprimindo títulos ao invés de dinheiro.

É necessário portanto manter toda uma solvência do mercado financeiro. Isso faz parte, inclusive, de um índice que talvez você já tenha ouvido falar: índice de basileia (não é a questão detalharmos esse termo aqui).

Nessa situação o Banco Central dá um intimato ao banco: ou regulariza o caixa de alguma forma, ou não abrirá as portas.

Muitos podem pensar que o banco está “ferrado”. QUE NADA! Para que servem os amigos? Ele recorre então a seus “amigos”: outros bancos.

Nesse processo entra o segundo banco da história: o DEF. Só que, esse segundo banco também tem um grande problema! Está com um caixa, positivo, de R$ 30 milhões.

Espera! Como um banco pode ter problemas estando com caixa positivo? Simples! A finalidade dos bancos é lucrar com juros, e dinheiro parado é dinheiro perdido. É preciso colocar esse dinheiro para trabalhar.

Aqui nós temos um match: de um lado um banco precisando tomar dinheiro emprestado, e do outro lado outro banco precisando emprestar dinheiro.

BancoABCDEF
Caixa-20 milhões+30 milhões
Títulos+30 milhões0
Saldo+10 milhões+30 milhões
Exemplo de empréstimo entre bancos

A negociação

Agora, o que parece certo: um banco emprestar para o outro, torna-se um processo de negociação.

A primeira coisa a se pensar é que, o banco DEF não vai emprestar dinheiro para o ABC sem possuir garantias. Seria um risco!

Mas lembre-se, o banco ABC possui R$ 30 milhões em títulos. Bem na verdade ele tem capital, mas não tem liquidez. Então o que ocorre é que são oferecidos R$ 20 milhões de títulos em garantia em troca de dinheiro em caixa.

Ficaríamos assim:

BancoABCDEF
Caixa0 milhões+10 milhões
Títulos+10 milhões+20 milhões (em garantia)
Saldo+10 milhões+30 milhões

Nessa troca, o banco faz esse empréstimo por meio de um certificado (de um documento que comprove essa operação), chamado CDI ou Certificado de Depósito Interbancário.

E aqui temos um dos principais motivos de existir o CDI: garantir liquidez e solvência entre bancos.

Mas espere! Algo que ainda não abordamos: a que taxa será feito esse empréstimo? Seria o banco DEF tão amigo a ponto de não cobrar nenhuma taxa? Lembre-se, o dinheiro estava parado e ele queria emprestar esse dinheiro; colocá-lo para render.

É aí que entra a Taxa Selic e a Taxa DI.

Taxa Selic e Taxa DI

Lembra que falamos que a Taxa Selic é a taxa mãe ou Taxa Básica de Juros? Podemos dizer que ela é a Taxa FIPE do mercado. Ou seja, taxa de referência.

Sem entrar em muitos detalhes para não complicar todo o racional, a Taxa Selic (Meta) é revisada a cada 45 dias pelo Copom (Comitê de Políticas Monetárias). Ela tem o poder de influenciar na inflação, no câmbio e na oferta de dinheiro no mercado. Essa taxa é alterada baseada em inúmeras variáveis e expectativas de mercado, para que, exista um denominador saudável entre crescimento (PIB), inflação e câmbio.

Voltando para o cenário que estamos exemplificando, o banco DEF precisa saber de que tipo são os títulos que o banco ABC tem: são títulos públicos ou privados?

A partir disso, ciente de qual será o título que será posto em garantia, os bancos negociam uma taxa de empréstimos entre si. De maneira lúdica, imagine você negociando um carro, existe a FIPE como referência, mas o preço do bem será negociado, com ágil ou deságio, entre as partes.

E assim se dá entre bancos, inúmeras negociações entre essas instituições ocorrem para que, antes da meia noite todos fechem seus caixas positivos.

No fim de todo esse processo o Banco Central levanta quais foram as taxas médias praticadas entre as instituições. Quando a garantia dos empréstimos é dada por meio de:

  • Títulos públicos, dá-se o nome de: Taxa Selic (Over);
  • Títulos privados, dá-se o nome de: CDI (DI).

Portanto, entenda que, a Taxa Selic Over é a média das taxas praticadas entre essas instituições por meio de títulos públicos; e o DI é a média das taxas praticadas entre essas instituições por meio de títulos privados (CDI).

Seus investimentos rentabilizam Taxa Selic (Over) ou CDI (DI)

Nesse momento espero que você tenha compreendido de onde saem essas taxas. E que elas são definidas diariamente por meio dessas negociações interbancárias e são muito próximas a taxa de referência (Taxa Selic Meta).

Agora você pode estar pensando como elas impactam nossos investimentos.

Quando alguém te oferece um título de renda fixa, e que não são títulos com taxas prefixadas, serão títulos que rentabilizarão sobre elas: Taxa Selic (Over) ou CDI (DI).

Se tomarmos como nota a atual Taxa DI de 2,65% aproximadamente, entenda que, um CDB que pague 120% do CDI estará pagando 20% a mais do CDI. E nesse sentido que eu o provoco, porque alguém deixaria um dinheiro parado na poupança pagando 70% de algo muito próximo a isso (Taxa Selic Meta)?

Para complementar: quando nós emprestamos dinheiro para um banco, o fazemos por um CDB (certificado de depósito bancário); quando um banco empresta dinheiro para outro banco, o faz por meio do CDI (certificado de depósito interbancário).

Taxa Selic

Você provavelmente deve ter compreendido em meio a esse processo que a Taxa Selic (Meta) servirá como uma espécie de FIPE para o mercado.

Comentei que não queria entrar em detalhes sobre a Taxa Selic pois estaríamos entrando em questões de política monetária, e que precisaríamos de mais tempo para abordar algo com maior profundidade aqui (posso abordar em um artigo futuro).

Mas entenda nesse cenário que, se a Taxa Selic subir, a referência também subirá. Portanto, o empréstimo entre bancos encarecerá fazendo com que a taxa do CDI praticada também suba. Assim também investimentos de renda fixa pós-fixados (atrelados ao CDI) passarão a rentabilizar melhor de maneira geral.

Nesse sentido, e de maneira extremamente resumida, entenda que, à medida que esses títulos passam a rentabilizar melhor, gradativamente se torna mais vantajoso investir o capital a consumi-lo. Por que vou usar esse dinheiro se posso investir a uma taxa atrativa? Com mais gente investindo e menos gente consumindo, a inflação pode também ser contida e assim gerando impactos em PIB, em desenvolvimento do país e outras consequências.

É o que chamamos de política restritiva. Mas novamente, esse é papo para um segundo artigo abordando Políticas Monetária.

Resumo

Resumindo tudo isso:

  • A cada 45 dias o Copom define a Taxa Selic Meta (atualmente em 2,75%);
  • Diariamente os bancos precisam fechar seus caixas e realizam empréstimos entre si;
  • A taxa negociada entre esses empréstimos utiliza a Taxa Selic Meta como referência;
  • Ao final do dia o Banco Central levanta a média das taxas negociadas;
  • As taxas usadas para os títulos públicos definem a Taxa Selic Over (diária);
  • As taxas usadas para os títulos privados definem a Taxa DI (CDI).
  • Os bancos emprestam dinheiro entre si por meio do CDI;
  • Nós emprestamos dinheiro ao banco por meio do CDB.

Ufa! Espero ter conseguido agregar conhecimento!

Um forte abs.

Paulo Boniatti

Escritor, autor do livro Montando uma Carteira de Investimentos Inteligente. Paulo Boniatti é pós-graduado em Gestão em Mercado Financeiro pela FAE Business School. Especialista em investimentos e adepto da filosofia do antifrágil, tem como principal característica a maneira simples e descomplicada de explicar o mercado financeiro. Além de youtuber e criador do canal SaldoZero, é também gestor do Clube de Investimentos Opportuna CI.

1 comentário em “CDI e SELIC? O que são? Entenda de uma vez por todas!

  1. Bárbara Responder

    Excelente ! me tirou muitas dúvidas que estava quebrando a cabeça para entender. Obrigado !!

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