Por que essa alta da inflação? Selic, Dólar, ações, fundos imobiliários, Tesouro Direto

Salvo se você passou um tempo isolado em uma ilha deserta, é certo que esteja sentindo na pele e ouvindo aos quatro ventos que, a inflação vem assolando a economia e reduzindo o poder de compra das famílias.

Mas qual o motivo dessa inflação? Por que ela ocorre? E, qual o impacto não somente no bolso, mas também na relação disso com a Selic, Dólar, ações, fundos imobiliários, títulos do Tesouro Direto e afins.

Falar de macroeconomia é algo que me motiva. Trata-se de um tema que aprecio em demasia. Mas, por saber que é um tema largamente complexo e que não é comum a todos, tentarei nesse texto trazer uma abordagem bastante simplista para que, qualquer pessoa possa entender os motivos pelos quais estamos enfrentando esses problemas econômicos.

Se lhe gera interesse, confia e vem comigo.

Inflação, uma carta marcada

Já não é de hoje que venho alertando que a inflação já era carta marcada. Isto é, por decisões que estavam sendo tomadas por diversos atores econômicos, era inevitável de acontecer.

Primeiro, por que ocorre inflação?

Muito se fala nos diversos veículos de comunicação que os produtos ficaram mais caros. Bem na verdade, não são os produtos que ficaram mais caros, mas nosso dinheiro que ficou mais barato.

Desculpe a comparação, mas não é o preço do combustível que está abusivo, é nosso Real que vale tanto quanto papel higiênico. Ok, o papel higiênico não está tão ruim assim.

Brincadeiras à parte, o efeito inflacionário ocorre por um descompasso de oferta monetária versus bens de consumo. Calma que vou explicar de maneira menos rebuscada.

Dinheiro, por si só, nada mais é que um meio de troca. Tendo 1 dinheiro em mãos você pode trocá-lo por 1 serviço ou por 1 produto. Veja que não citei o termo Real ou Dólar, mas somente dinheiro.

A relação perfeita entre dinheiro versus produtos e serviços é o cenário ideal. Mas, obviamente que as coisas não funcionam assim.

Vamos supor o seguinte exemplo: em um novo país, temos apenas dois cidadãos; de um lado temos Paulinho com 1 dinheiro, do outro lado temos Joãozinho com 1 maçã. Se olharmos simplesmente para essa relação, podemos concluir que 1 dinheiro é o mesmo que 1 maçã.

O que ocorre agora, se Joãozinho produzir mais 1 maça, mas do outro lado não houver a criação de mais 1 dinheiro? A relação ficou 1 dinheiro para 2 maçãs. Nessa relação, o dinheiro está mais valioso, pois, com apenas 1 dinheiro pode-se comprar 2 maçãs.

Mas, vamos imaginar que, por divindade alguém concluiu que pode criar dinheiro — inclusive é a crença de muita gente que acredita bastar imprimir mais dinheiro para que todos fossemos “ricos”. Nesse sentido, um novo cidadão, Luizinho, chega ao jovem país e cria 2 dinheiros — é o dono da máquina de impressão. Do outro lado, Joãozinho, o produtor de maçãs, não produziu mais, continua com suas duas maçãs.

Temos então a seguinte relação: 3 dinheiros (2 de Luizinho mais 1 de Paulinho) versus (2 maçãs). Nesse cenário, podemos afirmar que, 3 dinheiros é o mesmo que apenas 2 maçãs.

Quer dizer que as maçãs ficaram mais caras? De maneira alguma. Quer dizer que, por haver mais dinheiro disponível, sua relação unitária com o produto ficou menor. Em outras palavras, o dinheiro vale menos e será preciso mais para comprar a mesma quantidade de produtos.

Isso é inflação. Não é a alta de preços, mas a perda de valor da moeda.

Nesse exemplo extremamente simplista, a solução seria: (1) ter menos dinheiro no mercado ao ponto que a relação volte novamente a normalidade com os bens ofertados ou; (2) incentivar a produção de mais maçãs para que, novamente a relação também se restabeleça.

Chamamos isso de oferta versus demanda.

O que quero que você entenda é o seguinte: quanto maior a oferta de dinheiro, menos ele estará valendo. Isso por si já prova que, ter uma máquina de impressão de dinheiro não resolveria o problema da pobreza.

Decisões descompassadas de gestões globais

Agora que já sabemos que o que causa inflação é a oferta em demasia de dinheiro, vamos buscar reconhecer algumas decisões que ocorreram durante 2020.

Sobre impressão de dinheiro

Note, diversas decisões por imprimir dinheiro começaram ainda em 2020. Foi uma das “soluções” encontradas por muitos governos para buscar minimizar impactos da crise que estávamos, e que ainda estamos, vivendo.

Impressão nos Estados Unidos

Notícia externa – Valor Investe
Notícia externa – Ivesting.com

Impressão no Brasil

Notícia externa – E-Investidor
Notícia externa – iG Economia

Faz sentido? Mas calma que tem mais!

Nem somente de impressão o governo viverá

Como comentei, o que gera inflação é o descompasso no aumento na oferta monetária. Isso não quer dizer que seja somente por impressão de dinheiro.

A oferta de dinheiro ao mercado também pode ser dada por incentivo do crédito. Isso se dá por meio de estímulos, como a redução de taxas de juros por exemplo. No caso do Brasil, Taxa Selic.

Se temos uma Taxa Selic mais baixa — que podemos considerar como a FIPE do mercado financeiro brasileiro —, o sistema financeiro começa gradativamente reduzir também suas taxas, dentre elas de empréstimos, financiamentos e afins.

Em outras palavras, fica mais barato emprestar dinheiro. Isso gera um processo ilusório e deturpado de corrida ao crédito. Muitas companhias, por exemplo, passam a buscar mais dinheiro barato objetivando tirar do papel inúmeros projetos parados; muitas pessoas passam a se endividar buscando concretizar sonhos antigos até pouco tempo aparentemente impossíveis.

Essa busca por crédito, em tese, move a economia. Setores de construção vêm sua demanda aumentar, setores de serviços estagnados começam a ver suas receitas aumentarem e assim por diante.

Acontece que, taxa de juros baixa tem seus limites. Primeiro, de nada adianta uma companhia investir no aumento de sua produção se, para isso, depende de insumos que não tiveram sua oferta aumentada na mesma quantidade.

Nesse sentido, se temos excesso de dinheiro acima do que somos capazes de produzir, novamente é gerado um descompasso na oferta monetária e, o dinheiro se desvaloriza — lembre-se das maçãs.

Vamos novamente buscar reconhecer algumas decisões que ocorreram durante 2020.

Taxa de juros nos Estados Unidos

Notícia externa – G1
Notícia externa – Valor Investe

Taxa de juros no Brasil

Notícia externa – UOL Economia
Notícia externa – Poder 360

Mas calma, não pense que acabou. Ainda tem mais.

Um fator chamado Brasil

Se o texto até aqui mostrou que houveram excessos na oferta de dinheiro durante 2020 e 2021, ainda há um fator mais agravante: Risco Brasil.

Ninguém vai investir em um país arriscado, que não possui avaliações positivas no mercado externo se, não houver uma contrapartida atraente que rentabilize o capital apesar do risco.

Em outras palavras, nenhum estrangeiro irá investir seu capital no Brasil se não houver uma relação risco retorno interessante. Essa relação é dada geralmente por meio de nossas taxas de juros: Taxa Selic.

Podemos entender que, quanto maiores as incertezas econômicas, maiores serão as desconfianças e, maior a necessidade de contrapartida de juros altos, o que não ocorreu.

Durante 2020 e 2021 tivemos inúmeros acontecimentos que aumentaram em demasia os riscos econômicos: pandemia; guerras políticas; pronunciamentos equivocados; suspeitas de fraudes; e etc.

Todos esses acontecimentos — e não somente Brasil, mas global — ocasionaram um movimento de fuga (saída) de Dólar para o exterior. O fluxo desse capital fica destinado a investimentos mais seguros, como os títulos americanos, por exemplo.

Lembra da oferta e demanda? Se temos menos Dólar aqui no Brasil, esse tende a ficar…sim, mais valorizado frente ao Real.

Bom, vejamos as notícias:

Notícia externa – UOL Economia
Notícia externa – UOL Economia
Notícia externa – G1

A conta não tardou a chegar

Bom, em algum momento a conta chegaria. Nenhuma economia passaria imune aos efeitos de um estímulo em demasia de oferta de capital.

Obviamente que, os EUA por serem o dono do dinheiro mundial, veriam seus impactos acontecendo mais tardiamente se comparado a simples coadjuvantes econômicos como o Brasil — desculpe a franqueza, mas é isso que somos perante o mundo.

Mas o fato é que chegou. A inflação veio e é isso que quero evoluir no decorrer desse texto.

A inflação dá as caras

Com uma abundância em demasia de Dólar jorrando da impressora americana, era fato que sua moeda se desvalorizaria também — não pense que é só o Real que se desvaloriza. Causa disso foi o descompasso entre Dólar e commodities, petróleo, soja entre outros.

Com uma abundância de dinheiro e sem a contrapartida da produção, o que ocorreu com o preço das commodities mundiais foi um aumento em seus preços. Para agravar ainda mais a situação, a crise energética que assola diversos países provocou uma escassez e um déficit ainda maior na produção de diversas matérias primas. Resultado, força inflacionária em cascata.

Bom, agora já sabemos que diversos produtos, como o petróleo, que são cotados em Dólar tiveram seus preços inflacionados. Somado a isso o fato de que, o Real também sofreu muito pelos fatores já mencionados, tivemos um impacto ainda maior.

Acredito que não seja difícil de compreender como isso impactou diretamente no bolso da família brasileira: insumos e commodities encarecidas, base para muitos outros produtos e serviços, somado a desvalorização de nossa moeda, encareceu praticamente tudo.

Quer mais notícias?

Notícia externa – G1
Notícia externa – DW
Notícia externa – Terra
Notícia externa – Jornal Semanário

Causa disso? Preciso relembrar: oferta em demasia de dinheiro em descompasso com a oferta de produtos e serviços. Como sempre.

O impacto não só no bolso, mas nos investimentos

Espero que tenha ficado mais claro os motivos que nos levaram a chegar a essa inflação e como era um cenário já desenhado.

Mas, de outro modo, como isso impacta em nossos investimentos? Para responder a essa pergunta, é importante analisarmos os movimentos que acontecem na economia, dentre eles, o da Taxa Selic.

Se, tivemos a pouco tempo uma Taxa Selic mínima, histórica e que, não resolveu o problema econômico, agora temos ela sendo revista para cima. Saímos de uma Taxa de 2% para 6,15% — no dia que escrevo — em questão de poucos meses.

Esta alta da Selic tem um motivo: tentar reduzir a oferta de dinheiro e com isso frear a inflação — talvez tardiamente. Já temos bancos estimando que a Taxa Selic pode voltar aos patamares de 10% ao ano.

Sabendo desse movimento de alta da Selic, o que ocorre com as ações, fundos imobiliários e outros títulos?

Como já comentei, a Taxa Selic é como a FIPE do mercado. Sendo um balizador, o mercado exige um prêmio superior a Taxa para investir em ativos de maior risco.

De maneira simples falando, se a expectativa de retorno de uma ação ou fundo imobiliário é de 6% ao ano e a Taxa Selic é de 2%, ótimo. Há um prêmio de 4% acima da taxa básica que compensa o risco.

Do outro lado, se a expectativa de retorno desses ativos se mantém em 6% e, se agora a Taxa Selic se equiparou nos mesmos 6%, não há mais um prêmio acima da taxa básica.

Nesse sentido, o mercado estará suscetível a investir em ativos de maior risco se: (1) houver uma redução em seus preços ou; (2) aumentar as expectativas de retorno dos ativos, companhias e fundos imobiliários por exemplo. Caso contrário, mais prudente se manter em ativos menos especulativos.

Se há uma força maior da Taxa Selic, quer dizer que os preços de ações e fundos imobiliários podem se desvalorizar ou não aumentar no curto prazo enquanto o mercado se ajusta aos novos preços.

Do outro lado, devido ao aumento na inflação e Selic, ativos atrelados ao IPCA ou a Taxa Selic e CDI, nesse momento, tendem a ter suas rentabilidades aumentadas.

Isso quer dizer que devemos nos desfazer de ativos de renda variável e migrar para renda fixa? De maneira alguma. Ficar pulando de galho em galho não é o que irá te dar uma rentabilidade superior no longo prazo. É o que chamo de investidor macaco — já fiz artigo falando sobre.

Como sempre, gosto de abordar uma carteira de investimentos que se beneficie dos diversos cenários econômicos. Para isso, convido você a acompanhar a série da carteira pública aonde invisto dinheiro real e na prática.

E para aonde vai a inflação?

A resposta mais simples: vai para aonde o equilíbrio de mercado entre oferta e demanda seja novamente respeitado. O ponto desse equilíbrio, somente o tempo vai nos dizer. A questão é que, se ainda temos excesso de dinheiro circulando, a moeda continuará se desvalorizando.

E, não poderia deixar de trazer à tona: quem tem banco estatal, não precisa de banco central. Se não por estímulos através de vias normais, o governo e seus órgãos continuam a injetar dinheiro na economia por meio de diversos programas aparentemente populistas. O problema que o maior impactado, a classe pobre, é aquela que mais dificilmente enxerga esse tipo de manobra.

Notícia externa – O Popular
Notícia externa – Correio Braziliense

Conclusão

Obviamente, trouxe a tona, apenas algumas das decisões que influenciaram nesse momento delicado que estamos vivendo. De todo modo, como podemos ver, a inflação não surge por inescrupulosidades de empresários — mesmo havendo casos pontuais de aproveitadores —, mas por um descompasso econômico na oferta de dinheiro. Esse descompasso não é feito pelo mercado, mas pelos governos e suas políticas regulatórias e intervencionistas.

Caso você tenha interesse em se aprofundar mais nesse tema, sugiro a leitura das obras de Ludwig von Mises. Seus livros abordam com maestria conceitos da escola austríaca de economia, aonde é defendido, dentre tantos ensinamentos, que, quanto maiores as intervenções e regulações governamentais, maiores serão os ciclos, os problemas e as crises econômicas.

Espero ter agregado conhecimento.

Como sempre, lhe desejo todo sucesso e prosperidade que sei que você merece.

Por fim, sou Paulo Boniatti. Um forte abraço e tchau!

Escritor, autor do livro Montando uma Carteira de Investimentos Inteligente. Paulo Boniatti é pós-graduado em Gestão em Mercado Financeiro pela FAE Business School. Especialista em investimentos e adepto da filosofia do antifrágil, tem como principal característica a maneira simples e descomplicada de explicar o mercado financeiro. Além de youtuber e criador do canal SaldoZero, é também gestor do Clube de Investimentos Opportuna CI.

1 comentário em “Por que essa alta da inflação? Selic, Dólar, ações, fundos imobiliários, Tesouro Direto

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