Você sabe o que é um investidor macaco?

O Brasil, literalmente, não é para amadores. Um país que já teve inflação de mais de 80% em um único mês (março de 1990); que já teve taxas de juros (Selic) de mais de 45% (a.a.) em 1999; que do outro lado, no fim de 2020 e começo de 2021 uma queda histórica da mesma taxa para 2% (a.a.).

Da mesma forma, o Dólar, que já foi estratosférico antes ao Plano Real; “controlado” durante o início do plano; que chegou a bater quase R$ 6 em 2020 e agora ninguém tem certeza de qual será o futuro na relação Real vs moeda americana.

Tudo isso, mexe — e muito — nas expectativas futuras para todo e qualquer investimento, seja de renda fixa, de renda variável, aqui no Brasil como também fora dele.

E diante de um movimento nunca antes visto, em um processo migratório de novos investidores saindo das habituais cadernetas para ativos mais sofisticados, somado a todas as incertezas que pairam sobre esses cenários econômicos, é que, não é raro de ficarmos a todo instante nos questionando:

  • Com a alta da Taxa Selic, é melhor aumentar a posição de investimentos de Renda Fixa?
  • E o Dólar sendo acalmado, será que é melhor vender parte daqueles investimentos dolarizados?
  • Será que ainda vale a pena investir em ações?

Esses são apenas alguns exemplos. Mas, é por essas e outras que diversos canais viraram uma fábrica de fazer vídeos, com thumbs demonstrando medo, receio, incertezas e com títulos como:

  • Taxa Selic caiu para X%, o que fazer?
  • Taxa Selic subiu para X%, o que fazer?

O mais incrível é que esses vídeos são publicados praticamente no mesmo instante que as decisões do COPOM (Comitê de Políticas Monetárias) são divulgadas.

Não entenda como uma crítica, mas esses canais não são mais rápidos ou mais influentes que o restante da população. Eles simplesmente se utilizam de uma informação que praticamente todo o mercado já sabe.

Há um tempo atrás fiz um artigo falando sobre o Boletim Focus. Se você não viu esse artigo, sugiro que o veja. Nesse texto eu explicava como o mercado olha e espera para aonde a economia caminhará, tanto para: Taxa Selic, PIB, inflação e câmbio. Essa, é uma informação pública que você também pode ter acesso.

E voltando ao fato desses diversos canais simplesmente ecoarem uma informação que o mercado como um todo já esperava. Repare, todos eles tratam o tema de maneira muito semelhante: comentam que a Taxa Selic subiu (ou caiu); e no resumo da obra dizem que nada muda, simples assim; a estratégia de investimentos se mantém.

O investidor macaco

E é aqui que quero chegar. Seriam, esses diversos influencers, um pouco oportunistas, buscando somente views por meio da popularidade do assunto?

Talvez sim, talvez não. A questão é que, se há assunto sendo disseminado, há público interessado. Se a massa dos influencers toma uma iniciativa bastante semelhante, é porque há quem consome esse material.

E quem seria esse pública em específico? Não me leve a mal, tampouco entenda pelo lado pejorativo, mas é o que chamo de investidor macaco.

Um macaco tem por hábito ficar pulando de galho em galho, sempre em busca da melhor oferta de bananas. Não há nada de errado nisso, é sua essência. Mas, em meio a isso, ocorrem acidentes:

  • O novo galho pode estar podre quebrar;
  • O novo cacho de banana, pode estar apodrecido;
  • O cálculo do salto de um galho a outro pode falhar.

Se trouxermos isso para os investimentos, podemos relacionar com essa busca da melhor banana.

  • A taxa de juros está mais atrativa. Vou pular de renda variável para renda fixa;
  • O câmbio está desacelerando. Vou deixar para trás meus ativos dolarizados;
  • A taxa de juros reduziu. Vou voltar para renda variável.

E sem em meio a essas trocas constantes, acontecer do galho quebrar? Lembre-se, o Brasil não é para amadores.

  • E se a taxa que era para subir, de repente vem outra crise e o governo decide por novos cortes?
  • E se ocorrer outra crise do petróleo? Sobe Dólar, sobe preço do barril, sobe inflação;
  • E se o galho novo quebrar? E se o novo cacho de banana não for bom?

Não acredito que ficar saltando de uma classe à outra, pulando de galho e galho, tentando buscar pelo investimento que mais “promete” para o curto e médio prazo, seja o caminho mais indicado para a grande maioria dos investidores.

O segredo não está necessariamente em buscar altas rentabilidades, mas em se manter vivo no “jogo” pelo maior tempo possível.

Não precisamos ficar pulando de galho em galho

Sem entrar nos detalhes de uma macro composição de carteira — você pode obter isso nesse outro artigo. Mas vamos supor que tenhamos definido ter por padrão 30% em caixa (Tesouro Selic por exemplo) e 70% em ações.

Nesse cenário, se o mercado estiver caminhando para uma alta na Taxa Selic, o que favoreceria mais títulos de renda fixa e menos a renda variável, deveríamos aumentar nosso percentual de exposição em caixa e aproveitar essa alta?

Não! Sabe por qual motivo? Isso é reflexo do imediatismo. Mas, além disso, aqueles 30% que definimos ter em caixa já estariam se valorizando mais por conta própria, devido a nova taxa. Do outro lado, aquela nossa parte de ações talvez venha a se desvalorizar um pouco.

Nós havíamos definido a proporção 30-70. Vamos supor que passássemos a aumentar nossa proporção em caixa: 40-60. E se a Taxa Selic vier a cair novamente? E se aquele galho para qual saltamos quebrar? Não tente acertar o futuro, proteja-se dele.

O que faríamos então? Faríamos aquilo que é contraintuitivo para a maioria: aproveitaríamos para comprar aquilo que veio a se desvalorizar, nesse caso, ações. Usamos parte daquilo que se valorizou para comprar aquilo que ficou mais barato.

Como bem diz Howard Marks: tudo gira em ciclos, sempre tangenciando a média. Aquilo que se valorizou em demasia, em algum momento vai tender a média. Do outro lado, aquilo que se desvalorizou, em algum momento também vai se aproximar da média.

O objetivo é simples: a manutenção dos nossos percentuais. Ao invés de ficar pulando de galho em galho, vamos aprender a cultivar nossa própria plantação de bananas.

No entanto, isso é possível quando nos utilizamos de uma composição de carteira a qual nos permite sempre ter uma parte se valorizando: caixa, proteção cambial e renda variável. Nos aproveitamos da parte valorizada para comprar daquelas que ficaram para trás. Algo como um pêndulo.

Sugestão de leitura: Porque combinar Renda Fixa, Renda Variável e Dólar em uma única carteira pode ser uma estratégia inteligente?

Conclusão

Nenhum influencer é vidente. A informação das taxas de juros é vastamente antecipada. E se há interessados por algum tema, haverão vídeos sendo publicados para sanar essa demanda. É a regra do jogo.

O boletim focus está aí para todos. E, você não precisa ser necessariamente aquele investidor que fica pulando de galho em galho baseado no que o mercado está lhe oferecendo. Aprenda a compor e a manter uma carteira de investimentos.

A grande massa vai ficar tentando migrar de classe de ativo, enquanto nós vamos preferir manter nossa posição e comprar aquilo que justamente ficou mais barato.

Portanto, não fique buscando o que fazer a cada mudança na taxa Selic, seja superior a grande massa.

Por fim, deixo uma frase, dada como autoria de Nathan Rothschild: “compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos”.

Espero ter agregado conhecimento.

Por fim, sou Paulo Boniatti, um forte abraço e tchau!

Escritor, autor do livro Montando uma Carteira de Investimentos Inteligente. Paulo Boniatti é pós-graduado em Gestão em Mercado Financeiro pela FAE Business School. Especialista em investimentos e adepto da filosofia do antifrágil, tem como principal característica a maneira simples e descomplicada de explicar o mercado financeiro. Além de youtuber e criador do canal SaldoZero, é também gestor do Clube de Investimentos Opportuna CI.

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