O que eu gostaria que me ensinassem antes de ter começado a investir em ações

Eu sei, para quem está começando, escolher as melhores ações para sua carteira de investimentos pode ser algo extremamente desafiador. Ouso a dizer inclusive que, a depender, não é algo tão diferente para investidores que já possuem alguns anos de caminhada.

Hoje quero compartilhar com você um ensinamento que, quando descobri, abriu minha mente e me deu a oportunidade de lançar um olhar diferente sobre o mercado acionário. Permitiu-me, inclusive, ter mais tranquilidade e retornos superiores de longo prazo.

Infelizmente não é algo que nos explicam, até porque, não é interesse do mercado termos investidores mais conscientes, ao contrário, desejam investidores cada vez mais dependentes, seja de corretoras, de casas de análises — as famosas researchs — ou também de inúmeros “profissionais” de mercado.

Espero que ao final deste material você consiga ter uma visão muito mais clara do mercado de ações, permitindo decisões muito mais assertivas, assim como eu tive ao entender tudo isso.

Se este tema lhe interessa, confia e vem comigo.

O que é uma ação

De maneira simplificada, ação nada mais é que uma parte, uma fração, de uma companhia. É um “papel” que lhe dá direitos, proporcionais, aos lucros desta empresa.

Mas de maneira que fique de fácil entendimento aos mais leigos, vamos supor um negócio próprio. Digamos uma loja.

Esta loja, com o andar de sua operação, com o tempo terá: direito de receber valores por suas vendas junto a seus clientes (receitas) e deveres de pagar dívidas abertas junto a seus fornecedores (despesas).

Em outras palavras, ao final de um período o que teremos é um saldo entre receitas e despesas. Se este saldo for positivo, ótimo, sinal que obtivemos lucro.

Este lucro, somado a outros ativos da empresa: imóvel, equipamentos, estoque, contas a receber e, subtraindo tudo o que tem ainda a ser pago resulta no que chamamos de Patrimônio Líquido.

A própria palavra deve nos levar a compreender o seguinte: patrimônio — aquilo que se possui; líquido — considerando o que se possui mais o que tem a se receber menos o que se tem a pagar.

E o que seria então uma ação? Uma ação nada mais é que uma fração deste patrimônio líquido. É como se o patrimônio líquido fosse um bolo e que, cada ação fosse uma fatia.

Neste exemplo, supondo que a loja estivesse dividida em apenas 2 ações. Se a loja passar a gerar mais lucro, podemos considerar que seu patrimônio líquido está crescendo. Em outras palavras, o bolo ficou maior.

Assim sendo, se mantemos o mesmo número de ações e se temos um patrimônio maior, podemos entender que cada ação ficou também maior.

Agora lhe pergunto: no caso do bolo, se nossa fatia ficou maior proporcionalmente, ela deveria valer mais ou valer menos? Suponho que você tenha respondido que deveria valer mais.

E se temos uma fatia valendo mais, caso alguém queira compra-la de nós, deveríamos vender por mais ou por menos? Por mais, é obvio.

Isso quer dizer que, à medida que a empresa vai aumentando seu patrimônio líquido suas ações podem se valorizar gradativamente? Exatamente!

Portanto, o que é uma ação? Um “papel” que, no longo prazo, tende a valer mais ou menos refletindo o crescimento do lucro e do patrimônio da empresa.

O que faz um bolo crescer é a qualidade e a quantidade de fermento

Já sabemos que uma ação representa uma fração do patrimônio líquido de uma empresa. Sabemos também que o que faz o patrimônio crescer é seu crescimento do lucro.

Podemos dizer que a fatia de bolo está para as ações assim como o fermento está para o lucro. Quanto maior e melhor este lucro, mais o bolo crescerá, mais o patrimônio crescerá.

Isto quer dizer que, a base para qualquer empresa de qualidade é o como ela trabalha seu lucro e seu patrimônio líquido? Exatamente.

Obviamente que estas não são as únicas questões. Endividamento, margens e outras questões podem ser características de refinamento de estudo. Contudo, uma boa empresa, só vai conseguir ter lucros e crescimento se tudo isso funcionar em concordância, caso contrário ela não perdurará atrativa por muito tempo.

Alguns bolos crescentes

Vejamos alguns exemplos de empresas que cresceram seus bolos constantemente ao longo dos anos e como isso refletiu no preço de suas ações.

Todos os dados foram retirados do site Status Invest.

Porto Seguro – PSSA3

Vejamos abaixo o histórico do Patrimônio Líquido de 14 anos, saindo de R$1.996MM em 2008 para R$9.364MM em 2021. Aumento de 369%.

PSSA3 – Patrimônio Líquido

Na sequência vemos o histórico do Lucro Líquido. Temos um lucro líquido de R$289MI em 2008 e R$1.544 em 2021. Aumento de 434%.

PSSA3 – Lucro Líquido

Agora vejamos o histórico do preço de suas ações. Suas ações eram negociadas a R$5,74 em 2008 e R$24,65 ao final de 2021. Aumento de 329%. Faz sentido?

PSSA3 – Preço Ações

Equatorial – EQTL3

As mesmas considerações poderíamos tomar para a Equatorial. Vejamos em sequência: patrimônio líquido, lucro líquido e preço das ações, de 2008 até 2020 (dados ainda não atualizados para 2021).

EQTL3 – Patrimônio Líquido
EQTL3 – Lucro Líquido
EQTL3 – Preço Ações

Alguns bolos decrescentes

Temos exemplos bons. Mas, e os exemplos não tão bons quanto os anteriores?

Cielo – CIEL3

Jaz uma Cielo. É obvio que ela não acabou. Mas acabou como era conhecida na época em que dominava o mercado de adquirentes.

Vamos olhar seus 3 gráficos. A conclusão você mesmo poderá tomar deste período de 10 anos.

CIEL3 – Patrimônio Líquido
CIEL3 – Lucro Líquido
CIEL3 – Preço Ações

Petrobrás – PETR3

O que você acharia de ficar uma década com seu investimento patinando? Este foi o caso de Petrobrás. Por quê? Basta ver seu histórico de lucro e patrimônio:

PETR3 – Patrimônio Líquido
PETR3 – Lucro Líquido
PETR3 – Preço Ações

Faz sentido gerar lucro e não crescer o patrimônio?

Espero que até o momento as coisas tenham feito mais sentido para você. Quero aproveitar o restante do texto para tratar questões complementares.

Por qual motivo uma empresa seria capaz de gerar lucros e não crescer seu patrimônio? Um dos principais motivos seria pela distribuição deste lucro a seus acionistas ao invés de reinvesti-lo na própria companhia.

Seria o mesmo que, em nosso exemplo da pizza, ao invés da pizza crescer, pegarmos aquele excedente que cresceria e o distribuísse. Neste caso a pizza estaria gerando um constante excedente, mas nós não estaríamos permitindo que ela ficasse maior.

Isso é bom? Há quem goste. Há quem prefira que a companhia distribua boa parte de seus lucros em forma de dividendos.

Particularmente falando, prefiro que isso aconteça quando a empresa está em um setor sem possibilidades de crescimento ou, quando não confio em sua gestão para fazer a empresa crescer. Nestes casos, prefiro que a empresa distribua seus lucros em forma de dividendos para que eu mesmo possa alocar este capital em um ativo mais interessante.

De outra forma, a distribuição prematura deste lucro pode desacelerar o crescimento de uma companhia que cresceria mais fortemente se assim não distribuísse.

É por isso que, como já me posicionei em outro artigo, não me prendo a dividendos, e sim a lucratividade e rentabilidade da companhia. Quanto mais lucrativa e mais rentável for a empresa, independente se estes lucros vierem por meio de dividendos ou reinvestimento da empresa, sei que estarei ganhando junto, seja recebendo estes dividendos ou, seja vendo o valor das ações aumentando com o tempo.

No curto prazo tudo é questão de “apostas”

Acho válido mencionar que, tudo que foi dito neste artigo, é extremamente válido quando falamos de longo prazo. No curto prazo o mercado se move com relação a notícias e expectativas. Um aumento ou uma queda no valor das ações pode vir com as “apostas” se os resultados da companhia, em um determinado período, virão acima ou abaixo do que o mercado está esperando. Mas, no longo prazo não há expectativas, o que existe são fatos que refletem estes crescimentos de lucro e patrimônio, assim como vimos nos gráficos anteriores.

Como saber se uma empresa é constante em sua lucratividade?

Gosto de dizer que, se desejamos não sofrer neste mercado, precisamos investir em empresas meramente constantes. Isso por si só pode ser constatado nos gráficos anteriores, olhando a constância do crescimento do lucro e seu respectivo patrimônio.

Uma outra maneira é relacionar as duas coisas. Isso se dá por um indicador chamado ROE. O ROE é a divisão do lucro da empresa por seu patrimônio líquido. Quanto maior melhor, sinal que a companhia consegue rentabilizar melhor o capital de seus acionistas.

Tomando como exemplo as empresas citadas anteriormente, podemos considerar:

Porto Seguro, salvo 2009 e 2013 que foram anos que chamamos de não recorrentes, em linhas gerais se mantém com um ROE beirando os 15%. Superior a muito título de Renda Fixa.

PSSA3 – ROE

Olhando para a Equatorial, vemos desde 2014 um ROE não inferior a 16%, crescendo nos últimos anos.

EQTL3 – ROE

Mas, e se olharmos para Cielo e Petrobrás? Bom, deixemos os gráficos nos mostrarem. Podemos dizer que existe algum tipo de constância? Na Petrobras evidentemente que não, muito decorrente do setor de commodities como também de relações políticas. Já na Cielo podemos ver uma constância, contudo um constante decrescente, o que reflete nos gráficos de lucro e patrimônio apresentados anteriormente.

CIEL3 – ROE
PETR3 – ROE

Estas duas últimas companhias seriam saudáveis para se investir a longo prazo? Para mim não. Como já mencionei, prefiro constância, seja no crescimento do lucro, do patrimônio e na relação entre estas duas variáveis, representada pelo ROE.

Considerações finais

Se em meu início alguém tivesse me explicado que, no longo prazo o preço das ações tende a seguir lucro e patrimônio líquidos, certamente eu teria evitado muita dor de cabeça por ter selecionado empresas inconstantes, pouco lucrativas ou que, eram apenas fonte de especulação.

Deixe de agir como um especulador na Bolsa e passe a agir como um investidor que pensa como dono. E dono, seja do negócio que for, o que deseja é gerar lucro e crescer sua empresa cada vez mais.

Vou deixar um link caso você deseje se aprofundar em outras questões que envolvem a análise de uma boa companhia na Bolsa de Valores.

E por fim, caso queira aprender comigo como investir de maneira mais consistente para o longo prazo, deixo meu convite para você conhecer meu livro e meu curso. Tenho certeza que ambos irão ajudar você a se tornar um investidor superior.

Por fim, espero ter agregado conhecimento.

Sucesso e prosperidade.

Paulo Boniatti

Escritor, autor do livro Montando uma Carteira de Investimentos Inteligente. Paulo Boniatti é pós-graduado em Gestão em Mercado Financeiro pela FAE Business School. Especialista em investimentos e adepto da filosofia do antifrágil, tem como principal característica a maneira simples e descomplicada de explicar o mercado financeiro. Além de youtuber e criador do canal SaldoZero, é também gestor do Clube de Investimentos Opportuna CI.

1 comentário em “O que eu gostaria que me ensinassem antes de ter começado a investir em ações

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