Fundos de investimentos em ações – valem a pena?

Começo o artigo dizendo que: “Não é porque sei lavar um carro que assim eu queira fazer. Posso contratar um profissional”.

O mesmo pode acontecer no mercado financeiro. Não é porque você sabe investir que você talvez queira fazer por conta própria. Pode optar por um profissional.

Mas engana-se quem pensa que não é preciso conhecimento para investir em um fundo de investimentos. Muita gente nova acaba perdendo dinheiro com fundos simplesmente por não saber exatamente no que está investindo.

E é nesse sentido que damos sequência a esse artigo. Será que investir em fundos de investimentos de ações vale a pena? O que você precisaria, minimamente, observar em um fundo antes de deixar seu dinheiro gerido por um terceiro?

O tabu dos fundos

Assim como há o tabu entre comprar e alugar um imóvel, fazer ou não day trade, se preço importa ou não importa (no mercado acionário) etc, há também um lado polêmico entre investir ou não por meio de fundos de investimentos de ações.

Também pudera, isso se justifica quando estudos, como os trazidos pelo Valor Econômico, informam que menos da metade dos fundos de ações ativos batem seu índice de referência.

Fonte: Valor

Não por menos que, grandes investidores como John Bogle alegam que para o investidor médio que busca acompanhar os índices de referência, como o Ibovespa, uma alternativa com maior eficiência e menos custo são os fundos de índices (ETFs) em detrimento aos fundos de ações. Recomendo inclusive a leitura do livro O investidor de bom senso de John C. Bogle.

Mas saindo um pouco dessa rivalidade entre “Pelé e Maradona”, vamos separar o joio do trigo e não generalizar, ou seja, ignorar os 66% dos fundos que não performam e buscar focar naqueles que podem trazer resultados interessantes de longo prazo ao investidor.

Antes de tudo, o que são fundos de ações

Fundos de investimentos, de maneira geral, são algo semelhante a condomínios, onde, cada condômino, ou cotista, compra parte desse condomínio (desse fundo) em troca de uma expectativa futura que sua cota se valorize no longo prazo.

Ganha-se dinheiro nessa valorização, por essa diferente entre o preço que se pagou pela cota e o preço que futuramente ela possa estar valendo.

Esse fundo é gerido por um representante legal, seu gestor, responsável por traçar e executar as estratégias de investimentos desse fundo. Tudo isso documentado em um prospecto (lâmina).

Nesse sentido, o fundo irá comprar e vender cotas de ações buscando trazer uma performance superior ao investidor. Mas, note o que eu disse: buscando. Isso porque nem sempre as expectativas do fundo ou as decisões tomadas pelo gestor se mostram assertivas.

Por definição, fundos de ações devem aplicar no mínimo 67%, ou dois terços, do seu patrimônio em ações negociadas na bolsa de valores ou em outros ativos relacionados a esse segmento.

Importante também o investidor estar ciente que, por ser um tipo de fundo exposto ao mercado acionário, esse fundo tende a oscilar mais do que se compararmos com outros tipos de fundos mais conservadores, como os de renda fixa por exemplo.

Mas, independentemente disso, aqui ligamos ao início do artigo quando comentei que não é porque sei lavar um carro que eu queira lavar um.

Mesmo sabendo como conduzir uma carteira de investimentos talvez eu não queira assim fazer, e, desse modo poderia contratar um gestor profissional, por meio da compra de cotas de um fundo de ações, para gerir esse meu patrimônio investido.

As dificuldades em se selecionar um bom fundo de ações

Acontece que, ao buscar por um fundo de ações surgem as dificuldades. Como decidir por um bom fundo que esteja alinhado as estratégias do investidor? Não te parece tudo uma caixa preta?

Vamos tentar “azeitar” um pouco isso.

Performance histórica não é garantia de performance futura

Fique com essa frase na cabeça: “performance histórica não é garantia de performance futura”.

Vejo muita gente investindo em fundos de ações quando estes estão no auge, na “moda”. Inclusive esse é um momento onde muito fundo apresenta rentabilidades expressivas de 12 meses, muito disso influenciando pela forte recuperação do mercado pós pico da crise em março de 2020.

Acontece que, geralmente quando um fundo chega ao seu ápice da moda e torna-se grandiosamente falado, é porque já se valorizou muito. E, em raras as vezes consegue manter uma performance acentuada por muito tempo.

Igualmente importante, assim como ocorre em ações, os melhores momentos para investirmos são nas baixas, e não nas altas. Geralmente o investidor mediano faz o contrário.

Isso se justifica ainda mais quando vemos que investidores conseguiram perder dinheiro em um dos maiores fundos de todos os tempos, do tão exaltado investidor Peter Lynch. Pessoas compraram cotas do fundo na euforia, no auge, na moda, e venderam na depressão, na queda, na perda de brilho momentânea.

Fonte: Moneytimes

Portanto, não acredite que investir em fundos de ações é indicado para quem não sabe investir. Se a pessoa não tem o mínimo de conhecimento pode perder dinheiro tanto em ações como em fundos quaisquer.

Mas então, como separar o joio do trigo?

Nesse sentido, para tentar facilitar ao investidor, podemos trazer uma abordagem de Nassim Taleb quando ele fala sobre o Efeito Lindy, filosofia que diz que aquilo que sobreviveu ao tempo tende a sobreviver por um tempo semelhante no futuro.

Isso quer dizer que, quanto mais tempo algo sobreviveu ao tempo, possivelmente tenha maiores chances de viver por muito mais tempo.

É o que dizemos: se provar no tempo. E nesse sentido, trazendo para fundos de ações, é esse fundo ter sobrevivido a grandes crises.

Portanto, mesmo sabendo que rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura, uma abordagem para quem quer investir em fundos de ações é analisar seu histórico de longo prazo — acima de 10 anos é excelente.

Esse tipo de abordagem lhe dará sinais do que esperar do fundo quando momentos desfavoráveis a economia chegarem. Exemplo disso é a crise do Subprime em 2008 e até mesmo a crise de 2020.

E não basta simplesmente analisar a rentabilidade acumulada. Diversos estudos já comprovaram que pessoas tendem a preferir ganhar menos a perder mais. Isso se chama aversão a risco.

Por isso, para quem tem muita aversão, é interessante buscar por fundos que historicamente tenham se desvalorizado menos que seu benchmark durante grandes crises, assim como se valorizado mais durante euforias de mercado.

Uma questão interessante, e extremamente complementar, é comparar diversos fundos similares para o mesmo período de tempo e verificar como cada um se comportou nesses extremos de crises e euforias econômicas.

E lembre-se, muito fundo novo que aparentemente é uma boa opção, não se provou no tempo. Verifique a data de constituição (início) do fundo.

Taxas

Quando falamos em taxas, podemos trazer duas principais:

Taxa de administração

Taxa cobrada sobre o patrimônio investido. É a taxa que o fundo cobra para administrar os recursos do investidor.

Para muitos é uma das taxas mais injustas, digamos assim. Parte-se do pressuposto que, independentemente se o fundo entregar ou não um resultado condizente, você será cobrado dessa taxa — inclusive caso tenha performance negativa.

Taxa de performance

Talvez a taxa mais justa dentre as compreendidas dentro do fundo.

É uma taxa cobrada sobre o que o fundo superar seu benchmark. Digamos que seu objetivo seja superar o Ibovespa, sobre o que superar, será cobrado um percentual.

Diz que é uma das taxas mais justas pois, se o gestor conseguiu “bater o mercado”, ele poderia ser remunerado por seu bom trabalho.

Estratégia do fundo

A estratégia do fundo está alinhada com a sua? Não basta simplesmente investir em qualquer fundo só porque você acredita que o gestor fará um bom trabalho.

É um fundo que pode trabalhar alavancado? Apesar de um fundo alavancado poder entregar resultados melhores, pode também entregar resultados piores que o restante do mercado. Um fundo alavancado tem maior risco embutido.

Por outro lado, é um fundo que tem como estratégia operar somente comprado em ações, ou ele pode operar vendido também?

Outra questão a se analisar. Quais são as posições do fundo? Será que as companhias que esse fundo investe estão alinhadas com o que você espera? Abrindo um parêntese, é possível por meio da CVM conhecer a posição dos fundos com um atraso de 3 meses.

Veja onde estou te levando a pensar: se você não sabe o que é comprado ou o que é vendido por exemplo, ou se o fundo investir na companhia A ou B é algo mais ou menos arriscado, a probabilidade de se escolher um fundo que não condiz com seu perfil e sua estratégia, pode ser elevada.

Por isso que digo, uma coisa é não querer investir por conta própria ou acreditar que contratar um gestor possa ser uma opção sadia, outra coisa é não saber minimamente se a escolha que se está fazendo é a melhor possível. Investir por fundos é delegar, e não “delargar”. Estude.

Tamanho do fundo

Conhecer o tamanho do fundo, quanto ele tem captado pode também dar sinais da importância e a robustez desse fundo frente ao restante do mercado.

Outras questões

Não menos importante, buscar saber o prazo de resgate e a aplicação mínima também podem ser insights interessantes a serem analisados.

Aonde encontrar todas essas informações

A maioria desses detalhes você consegue por meio das lâminas (prospectos), disponíveis nas corretoras por exemplo.

Também, por meio de sites como a Investnews, você será capaz de comparar performances históricas entre diferentes fundos — precisará do CNPJ ou nome dos fundos a serem comparados.

E logicamente, como citei, no site da CVM você será capaz de encontrar os detalhes da composição de carteira do fundo (com defasagem de 3 meses) — além de outras informações.

Skin in the game

Mais um conceito muito abordado por Nassim Taleb. Trata-se de termos a pele em risco.

Nesse sentido, será que o gestor está colocando a pele dele em risco? Isto é, quanto do patrimônio do gestor está investido nesse fundo? Se o fundo tiver uma performance ruim, isso impactará em que grau esse gestor?

Essa não é uma informação pública, mas alguns fundos, por meio de seus sites, entrevistas, blogs ou outros, acabam abrindo quão participativo financeiramente é o gestor dentro do fundo.

Inclusive é uma opção também acompanhar o gestor em redes sociais. Nestas redes os gestores costumam demonstrar sua filosofia de investimentos. Até porque, ao se investir em um fundo de ações, você está literalmente contratando a “cabeça” de alguém.

Quanto mais você se identificar com o gestor, melhor.

Alíquota

Não poderia deixar de fora uma questão que sempre é perguntada: imposto de renda. Para fundos de ações, a alíquota é de 15% sobre o lucro no momento do resgate. Simples assim.

Mas, e aí. Vale a pena investir em fundos de ações?

Gosto de dizer o que faço, portanto já começo dizendo que EU não tenho investimentos em nenhum fundo de ações. Prefiro fazer o que chamamos de Stock Picking (selecionar ações pontualmente).

Não tenho absolutamente nada contra. É minha filosofia de investimentos.

Mas vejo o seguinte, para pessoas que não possuem tempo hábil, ou não querem se dar ao trabalho de investir por conta própria no mercado acionário — apesar de eu acreditar que é uma experiência engrandecedora para a maioria — pode ser uma alternativa.

Alguns investidores mais experientes também investem parte de seu capital em fundos de ações quando entendem que, fazendo isso, estarão também diversificados mentalmente (com a cabeça do gestor gerindo parte do capital).

Só que, como visto, não basta simplesmente investir em um fundo só porque alguém lhe disse ser bom. Você precisa conhecê-lo da melhor maneira possível, para que, tenha uma maior confiança de que seu dinheiro estará sendo bem gerido por um gestor profissional.

Além disso, o psicológico também precisa estar preparado. Por estarmos falando de fundos de ações, tenha ciência que um fundo também pode cair 50% (ou mais) em crises. Você está preparado para isso?

Por isso, um ponto que, independentemente se você vai investir por conta própria ou por meio de fundos de ações, aquela máxima é sempre bem-vinda: invista com foco de longo prazo.

E se você estiver pensando que investir não é para você, e que a única opção é delegar essa tarefa a um terceiro, trago um trecho do livro O jeito Peter Lynch de investir:

[…] a regra número um de meu livro é pare de ouvir os profissionais de investimentos! Vinte anos neste negócio me convenceram de que qualquer pessoa normal, usando os costumeiros 3% de capacidade do cérebro, pode selecionar ações tão bem quanto, senão melhor que, o profissional médio do mercado.

E dessa forma que termino esse artigo dizendo que, procure estudar e investir por conta própria. Futuramente de duas uma:

  • Ou tomará gosto e será um investidor cada vez melhor;
  • Ou concluirá que não gosta disso, mas saberá minimamente avaliar o trabalho de um gestor.

Bom, espero ter agregado conhecimento e lhe dado pistas do que analisar em um fundo de ações.

Por fim, sou Paulo Boniatti, um forte abraço e tchau!

Escritor, autor do livro Montando uma Carteira de Investimentos Inteligente. Paulo Boniatti é pós-graduado em Gestão em Mercado Financeiro pela FAE Business School. Especialista em investimentos e adepto da filosofia do antifrágil, tem como principal característica a maneira simples e descomplicada de explicar o mercado financeiro. Além de youtuber e criador do canal SaldoZero, é também gestor do Clube de Investimentos Opportuna CI.

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