Indicadores Fundamentalistas: ROE, porque é um dos meus indicadores preferidos

Se você investe em Ações, ou está começando a investir, já deve ter percebido que não há um consenso entre analistas e investidores de qual a melhor maneira de se analisar uma companhia.

Cada investidor tende, com o tempo, a modelar sua própria estratégia de investimento. O que é extremamente salutar.

Mas, inevitavelmente alguns pontos não podem ser deixados de lado ao se investir em uma companhia, por isso existem alguns indicadores, como é o caso do ROE.

O que é o ROE

O ROE, do inglês, significa Return on Equity. Em português, Retorno sobre o Patrimônio Líquido.

De maneira bastante objetiva, é a divisão do lucro líquido da empresa pelo seu patrimônio líquido.

Para compreendermos melhor, o patrimônio líquido é o capital do acionista. É o quanto aquela empresa tem de patrimônio desconsiderando tudo o que tem para pagar menos o que tem para receber.

Se trouxermos para nossa vida familiar, é o mesmo que você considerar o patrimônio líquido da sua família: tudo o que você tem em bens (casa, carro, terrenos) menos tudo o que tem para pagar de dívidas (passivos), mais tudo que tem para receber em um período de tempo (ativos).

Isso nos diz que, o patrimônio líquido é a diferença entre ativos menos passivos, ou:

Agora, quando trazemos isso para a empresa, o patrimônio líquido é o quanto sobra de capital. É o quanto de dinheiro dos acionistas está empregado no negócio.

Sabendo disso, vamos supor que você tenha um negócio próprio com patrimônio líquido de R$ 100 mil. E que, no período de 12 meses, esse negócio gerou R$ 10 mil de lucro líquido — sem entrar no detalhe, lucro líquido é o lucro que sobrou efetivamente para a companhia após retirar custos, despesas, juros e outros montantes financeiros.

Nesse exemplo, se dividirmos os R$ 10 mil de lucro líquido pelos R$ 100 mil de patrimônio líquido, nos dá um ROE de 10%.

Agora o ponto que eu acho mais importante. Supondo que ao invés de possuir um negócio próprio, você tenha preferido investir os mesmos R$ 100 mil em um título de Renda Fixa como um CDB 100% do CDI.

Com o CDI atual em 1,90% (a.a.), você teria rentabilizado seu capital, ao fim de um ano, em R$ 1,9 mil — sem considerar ainda o IR. Comparando os 10% do negócio próprio rentabilizando seu capital contra os 1,90% do título de Renda Fixa, supostamente a primeira opção seria mais interessante.

Portanto, quando olhamos para o ROE, quanto maior, melhor. Isso quer dizer que, quanto mais a empresa conseguir gerar de lucro sobre o capital dos acionistas, mais rentável será.

Cuidado com o falso ROE

Como sempre, não custa dizer que nenhum indicador deve ser analisado de maneira isolada. Isso não é simplesmente uma frase clichê. Se lembrarmos que o ROE é a divisão do lucro líquido pelo patrimônio líquido, caso tenhamos lucro e patrimônio líquidos negativos, nos dará um ROE positivo. Matemática: divisão de negativo por negativo resulta positivo.

Portanto, outros indicadores como, margem líquida, endividamento e assim por diante precisam ser levados em consideração para que você não caia no falso ROE positivo. Sugiro que leia outro artigo que falo dos pilares ao se analisar uma ação.

Tenha mentalidade de dono

Sempre reforço que o preço da ação é importante, mas tem que ser a última coisa a ser analisada.

Voltando ao cenário do negócio próprio, você não deveria estar preocupado inicialmente se sua loja está cara ou barata, mas deveria estar preocupado em aumentar seus lucros e crescer o patrimônio.

Nesse sentido, como dono, o que fazer com o lucro líquido gerado pela empresa? Você teria que considerar: se empregar esse lucro na própria companhia (novos projetos, ampliação do negócio) aumento o patrimônio da empresa, mas, conseguirei manter um bom ROE?

Para exemplificar melhor, no cenário anterior tínhamos um patrimônio líquido de R$ 100 mil e um lucro líquido de R$ 10 mil, nos dando uma rentabilidade (ROE) de 10%:

Se pegarmos agora os R$ 10 mil de lucro e reinvestirmos na empresa, quer dizer que passaríamos a possui R$ 110 mil de patrimônio líquido. Supondo que, os lucros se mantivessem nos mesmos R$ 10 mil, nós passaríamos a ter um ROE menor:

Digamos que você pudesse visualizar oportunidade de um outro investimento que lhe rentabilizasse mais do que esses 9% (a.a.). Seria uma opção você não reinvestir na companhia e alocar os R$ 10 mil de lucro inicial nesse outro investimento, rentabilizando assim, melhor o seu patrimônio, como dono e como investidor.

Isso inclusive é um dos motivos que, por não enxergar a possibilidade de rentabilizar bem o novo capital, muita companhia prefere distribuir seus lucros em forma de dividendos ao invés de crescer o negócio. “Melhor distribuir o lucro aos acionistas, que poderão decidir aonde investir, do que alocar esse lucro na companhia sem conseguirmos tão bem rentabilizá-lo e consequentemente reduzirmos nosso ROE”.

As expectativas podem ser frustrantes

Muitos investidores estão eufóricos com ações de companhias que, apesar do ROE extremamente baixo, não param de se valorizar.

Isso vem muito ligado as expectativas futuras da empresa — que ninguém pode confirmar que irão se confirmar — mas principalmente pelo efeito manada. Aquele medo de “perdermos” uma oportunidade de enriquecer rápido.

Cuidado! Como já comentei em diversos artigos, cotação de uma ação tende a seguir a curva de lucro a patrimônio líquidos no longo prazo. Warren Buffett também cita: “No curto prazo o Sr. Mercado é irracional, mas no longo prazo é uma balança”.

Conclusão

Colocando-se na posição de dono da companhia reflita: tenho uma empresa rentabilizando meu capital (ROE) em 2% (a.a), a mesma rentabilidade de um Tesouro Selic. Isso é bom? Para quem está somente especulando sobre o preço da Ação talvez seja, pode dar um golpe de sorte e ver suas cotas se valorizarem absurdamente no curto e médio prazo. Mas, para quem olha para o valor do negócio possivelmente não fique satisfeito com a baixa rentabilidade do capital.

No fim, para o dono o que interessa é lucro e patrimônio, quando mais crescerem melhor. Isso é o ROE. E eu, pessoalmente falando, busco empresas com ROE acima de seus 10%.

E se você ficou com dúvidas de como poderia buscar as informações para calcular o ROE, não se preocupe. Diversos sites como Status Invest, Fundamentus, Fundamentei e outros fornecem o ROE e outros indicadores de forma pronta.

Bom, aqui eu fico. Compartilhe conhecimento, compartilhe educação financeira.

Sou Paulo Boniatti, um forte abraço e tchau!

Escritor, autor do livro Montando uma Carteira de Investimentos Inteligente. Paulo Boniatti é pós-graduado em Gestão em Mercado Financeiro pela FAE Business School. Especialista em investimentos e adepto da filosofia do antifrágil, tem como principal característica a maneira simples e descomplicada de explicar o mercado financeiro. Além de youtuber e criador do canal SaldoZero, é também gestor do Clube de Investimentos Opportuna CI.

2 comentários em “Indicadores Fundamentalistas: ROE, porque é um dos meus indicadores preferidos

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