Porque, como e quando rebalancear uma carteira de investimentos

Enganam-se aqueles que acreditam que, ser um Buy & Holder, é sinônimo de nunca se desfazer de uma posição em carteira. Como bem diz Howard Marks, nenhuma árvore crescerá infinitamente.

Seguindo nessa mesma linha, podemos ainda dizer que uma árvore que cresceu absurdamente fora do normal, também é um risco: mais do que não crescer infinitamente, ela pode cair. E, nesse sentido, certas podas são extremamente benéficas.

Trazendo essa alusão para o mercado financeiro, podemos dizer que todos aqueles investimentos que você vem fazendo (sementes), terão comportamentos inesperados, e consequentemente, crescimentos diferentes.

Uma outra questão que sempre gosto de trazer é a humildade que temos que ter perante as incertezas. Não temos o poder de prever o futuro, mas podemos (e devemos) nos proteger dele.

As incertezas fazem parte do mercado financeiro. Analise:

  • Um investimento que se valorizou em demasia, é hora de vende-lo? Depende. E se ele continuar a se valorizar?
  • Um investimento que se desvalorizou em demasia, é hora de comprar mais? Depende. E se ele continuar a se desvalorizar?

Ninguém terá certeza. Lembre-se: nenhuma árvore crescerá infinitamente, tampouco teremos a convicção que ela não cairá.

E nesse sentido, buscando reduzir o subjetivo que, uma estratégia muito praticada no mercado financeiro é o rebalanceamento de carteira.

Hoje quero falar porquê, como e quando rebalancear uma carteira de investimentos.

Porque rebalancear uma carteira de investimentos

Fazendo relação ao exemplo da árvore, vamos supor que você tenha uma carteira de ações composta por 5 empresas, e que cada uma tenha sido definida inicialmente com 20% da carteira.

Vamos supor que as ações de uma dessas empresas tenham se valorizado em 200%. Uma performance excepcional! Mas temos um problema — apesar de ser um problema muito bom para se resolver —: a companhia que detinha 20% da carteira, passou a ter expressivos 43%.

O risco, nesse exemplo, ficou muito concentrado em uma única empresa. E te faço as perguntas:

  • Os fundamentos da companhia condizem com essa valorização?
  • E se a alta tenha sido provocada por um movimento especulativo que fará com que as ações venham a ter suas cotações corrigidas (se desvalorizar)?
  • E, em um cenário apocalíptico: se a companhia vier a falir no futuro?

Poderia listar tantos outros questionamentos, mas não vem ao caso. O caso é que, não temos certeza de absolutamente nada do que acontecerá. Só temos a certeza que, nesse exemplo, temos 43% da carteira em jogo (em concentração de risco).

Nesse caso, rebalancear é reduzir a exposição dessa uma única companhia — ou aumentar a exposição nas demais — e consequentemente reduzir a exposição ao risco desmedido.

Como rebalancear

Em linhas gerais, você tem duas maneiras de rebalancear uma carteira:

  • Por meio de novos aportes ou dividendos;
  • Pela venda de capital excedente e realocação em outras posições.

Novos aportes ou dividendos

Acredito ser a maneira mais simples e transparente. A estratégia é: no momento do novo aporte (ou recebimento de dividendos), o investidor foca na compra de ativos que se valorizaram menos em relação a totalidade da carteira, sem a necessidade de vender posições.

Em outras palavras, é você focar seu aporte para satisfazer os percentuais que você definiu inicialmente para cada posição em carteira.  

Venda de capital excedente

A segunda maneira é você vender o capital excedente. Talvez esse seja um tema mais polêmico. Há quem diga que você nunca deveria vender uma única ação que fosse. Refuto esse argumento.

Novamente, nenhuma árvore crescerá infinitamente. Concordo que temos que tentar evitar vender uma parte da posição de uma boa companhia, mas em alguns casos a opção está entre: esperar que a árvore continue crescendo à um dia parar de crescer — ou cair.

Nesse sentido, uma estratégia que costumo abordar — e muitos investidores também se utilizam — é você ter um percentual de tolerância — margem de risco ou grau máximo de exposição. É você definir um limite superior e inferior de exposição.

Supondo que tenhamos um percentual de tolerância de 30% onde cada companhia tenha 20% em carteira. Isso quer dizer que a companhia pode variar, para cima e para baixo, 30% (dos 20%) além de sua alocação inicial definida.

Matematicamente falando, 30% de 20% é igual à 6%. Nesse cenário, a companhia pode variar entre 14% à 26% de exposição em carteira. Caso, esse percentual seja ultrapassado, faz-se necessário o rebalanceamento:

  • se excedeu positivamente, vende-se o excedente e realoca o capital em outras posições;
  • se excedeu negativamente, faz-se necessário aportar o montante faltante.

Quando rebalancear

Existem 3 momentos bem definidos de quando se fazer o rebalanceamento:

  • No novo aporte;
  • No rompimento do percentual de tolerância;
  • Períodos pré-definidos.

No novo aporte

Simples, assim como já abordamos, no momento de novo aporte, busca-se investir em ativos que carecem de um novo aporte financeiro para que os percentuais de alocação sejam reajustados ao mais próximo da composição de carteira desejada.

No rompimento do percentual de tolerância

Pontualmente, quando ocorre o rompimento do percentual de tolerância — que já comentamos. Busca-se vender o excedente de um ou alguns ativos, ou aporta-se pontualmente para que, novamente, os percentuais desejados sejam restabelecidos.  

Períodos pré-definidos

É opção também fazer rebalanceamentos periódicos: semestrais ou anuais. Nesse rebalanceamento usa-se um tempo maior para que também sejam estudadas e revistas mais a fundo cada posição em carteira.

Cuidados

Algumas pessoas, geralmente os iniciantes, acreditam que se preço das ações de uma companhia cai, é sempre momento de comprar mais. Muito disso focado na máxima: compra-se ao som dos trovões, vende-se ao som dos violinos.

Mas a questão é que, nem sempre. Acreditar que sempre que uma empresa cai é momento de comprar mais, pode ser também uma estratégia arriscada e você pode estar meramente cultivando ervas daninhas em meio àquelas árvores saudáveis.

Quem teve esse pensamento em OI (OIBR3) e veio comprando ações da companhia constantemente, buscando “rebalancear”, possivelmente não teve um cenário muito animador:

OIBR3 desde 2013

Nesse cenário é o que gosto de chamar de questão de honra. O investidor, na expectativa de que a companhia se recupere, se agarra a ela e continua aportando esperando que o cenário melhore. Cuidado com o ego.

Sempre que for fazer um rebalanceamento, busque entender qual o motivo da necessidade de rebalancear. A companhia que ficou para trás e carece de um novo aporte, mantém seus fundamentos saudáveis com boas perspectivas futuras?

Outra questão a se considerar são os custos do giro da carteira. Existem corretoras que cobram taxas de corretagem. Além disso, há também cenários de incidência de imposto de renda na venda com lucro.

Sugiro a leitura: Como declarar seus investimentos – um guia completo

Portanto, antes de rebalancear, cautela.

Conclusão

Podas pontuais são saudáveis não somente para a árvore podada, mas também para as que estão em torno que poderão receber mais luz e cuidados melhores. Não tenha medo de os fazer.

Por outro lado, adubar árvores que não se desenvolveram como era esperado, é importante também. Mas cuidado para não adubar ervas daninhas ao invés de árvores em questão.

Um ponto que não comentei, a estratégia de rebalanceamento não é exclusividade de ações, mas para a carteira com um todo, desde o rebalanceamento entre classes (renda fixa vs renda variável) até os ativos propriamente ditos.

Por fim, lhe desejo todo sucesso do mundo.

Sou Paulo Boniatti, um forte abraço e tchau!

Escritor, autor do livro Montando uma Carteira de Investimentos Inteligente. Paulo Boniatti é pós-graduado em Gestão em Mercado Financeiro pela FAE Business School. Especialista em investimentos e adepto da filosofia do antifrágil, tem como principal característica a maneira simples e descomplicada de explicar o mercado financeiro. Além de youtuber e criador do canal SaldoZero, é também gestor do Clube de Investimentos Opportuna CI.

2 comentários em “Porque, como e quando rebalancear uma carteira de investimentos

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