Maneiras de expor parte de sua Carteira de Investimentos ao Dólar

Depois de ter feito um artigo relatando como minha Carteira de Investimentos se comportou frente à crise de 2020, passei a receber diversas dúvidas referente a maneira como me exponho ao Dólar. Motivo disso é que parte da carteira é dolarizada.

Portanto, quero neste artigo abordar maneiras de como podemos nos expor a moeda americana e compararmos como se comportam frente aos grandes stresses de mercado, como foi o caso de março e abril de 2020 (pico das crises nas bolsas).

Antes de mais nada, não custa relatar que, este artigo tem caráter exclusivo de compartilhamento de conhecimento. Como sempre digo, antes de realizar qualquer tipo de investimento, você deve estudar, e, principalmente, não se expor ao risco da ruína. Afinal, dinheiro é caro e difícil de conseguir.

Continuando, precisamos entender que, dentre as maneiras abordadas, uma não exclui a outra. Quero listar características de cada uma para que você consiga compreender suas diferenças e discernir a melhor opção para o seu cenário.

Investir em empresas brasileiras que possuam parte de suas receitas em Dólar

Muitos citam como opção, a possibilidade de investirmos em companhias brasileiras que possuam parte de suas receitas em Dólar. Setores de commodities, por exemplo, geralmente se beneficiam das altas no câmbio uma vez que o preço desses produtos é cotizado em Dólar.

Em outras palavras, se a cotação do produto se valoriza devido à alta do Dólar, empresas que comercializem esse bem tendem a ver suas receitas também valorizadas.

Exemplo de companhias que “surfam” o efeito do Dólar alto são de setores como:

  • Papel e celulose: Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11);
  • Mineração: Vale (VALE3);
  • Siderúrgicas: Gerdau (GGBR4), CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5);
  • Frigoríficos: JBS (JBSS3), BRF (BRFS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3).

Contudo, será que investir em companhias desse tipo nos asseguram proteção em grandes crises? Para isso, vejamos o gráfico a seguir.

Note que, durante o pico de stress de mercado, entre março e abril de 2020, empresas como Suzano, Vale, Gerdau e JBS se desvalorizaram fortemente junto com o próprio Índice Ibovespa (-40,28%).

É preciso entender que, investir em companhias como essas envolve algumas variáveis além do benefício do Dólar:

  • Performance do Dólar (para médio e longo prazo);
  • Performance da companhia;
  • Performance da economia brasileira;
  • Performance da economia global.

Portanto, qualquer performance negativa de uma dessas variáveis pode derrubar o benefício que se busca no Dólar. Como foi o caso durante a crise, onde, tanto a performance da economia brasileira quanto a global foram impactadas.

Não ouso a dizer que essas não sejam boas companhias. Não é isso! Mas essa pode ser uma opção para quem busca uma diversificação dentro de uma carteira de investimentos brasileira. Quando pensamos pelo viés de proteção dolarizada, para momentos de grandes stresses, pode não oferecer o benefício desejado.

Investir em empresas estrangeiras

Investir diretamente em empresas estrangeiras — considere tanto diretamente no exterior como por BDRs —, pode trazer, até certo ponto, o benefício de proteção dolarizada. Afinal, as Ações destas companhias são cotadas em Dólar.

Mas, analisando o mesmo cenário caótico de março e abril de 2020. Como foi a performance dessas companhias frente ao nosso Índice Ibovespa?

Vejamos no gráfico três exemplos de empresas americanas: Berkshire Hathaway (BERK34), Home Depot (HOME34) e Apple (APPL34).

É nítido que as Ações das companhias americanas se desvalorizaram menos se comparado às brasileiras. Fato minimizado pelo efeito Dólar — que se valorizou em demasiado durante o mesmo período.

Mas, apesar disso, mesmo de forma branda, também se desvalorizaram. Isso porque, assim como na opção anterior, investir em companhias estrangeiras envolve algumas variáveis além do benefício do Dólar:

  • Performance do Dólar (para curto, médio e longo prazo);
  • Performance da companhia;
  • Performance da economia do país estrangeiro;
  • Performance da economia global.

Pode ser opção para quem busca diversificação macro de carteira, se protegendo do risco Brasil e acreditando nas expectativas de companhias estrangeiras específicas.

Investir em ETFs que sigam índices estrangeiros

Não irei me alongar nesta opção. O efeito é muito similar ao de se investir diretamente por empresas americanas. A diferença maior é que, você não estará se expondo diretamente em algumas poucas companhias, mas sim em um índice.

Como exemplo, o IVVB11 é um ETF negociado em nossa Bolsa que reflete o índice do S&P500 americano. Em outras palavras, investindo nesse ETF você estará indiretamente investindo na performance do mercado americano.

Vejamos no gráfico a seguir a comparação entre IVVB11 — entenda S&P500 — e Índice Ibovespa. O resultado foi muito similar à opção anterior.

De qualquer maneira, nesse cenário temos menos variáveis a nos preocupar:

  • Performance do Dólar (para curto, médio e longo prazo);
  • Performance da economia do país estrangeiro;
  • Performance da economia global.

Isso se prova pelo gráfico. Tanto nossa Bolsa quanto a Bolsa americana tiveram fortes impactos durante a crise — ambas “caíram”. O que minimizou o impacto de quem estava posicionado no índice americano foi o efeito Dólar.

Pode ser opção para quem busca uma diversificação macro de carteira, buscando principalmente se proteger do risco Brasil e acredito na economia americana como um todo.

Alguns investidores se utilizam do índice americano como forma de proteção. Mas, o que tem que ficar atento é para a performance da economia desse país. Não ouso dizer que não continuarão a crescer como vêm fazendo por mais de séculos. Mas, cisnes negros acontecem, como o de 2008.

Infelizmente não tenho dados do IVVB11 para esse período, mas temos dados do Índice Ibovespa em azul, do Dólar em vermelho e do SPX (S&P500) em laranja.

Se traçarmos uma linha reta entre a média da cotação do Dólar e do S&P teríamos algo assim:

Para investidores que estivessem posicionado no índice americano em 2008, teriam uma performance prejudicada em comparação aqueles que possuíam uma parte em proteção pura de moeda. Opção que veremos a seguir.

Investir em Fundos Cambiais

Esta é uma das opções mais “puras” de se expor ao Dólar. Como já mencionei em diversos artigos, em momentos de forte stress, a moeda americana faz uma contraposição natural frente a nossa Bolsa. É uma maneira suave de Hedge.

O motivo disso é o medo e a incerteza que predomina no mercado financeiro quando há um grande stress — como vimos na crise de 2020 e 2008. Isso causa um movimento de venda nas bolsas e de compra em ativos mais seguros.

Aproveitei-me do gráfico anterior que comparei o ETF vs o Ibov durante a crise de 2020, incluindo apenas mais uma informação: a cotação do Dólar frente ao Real (linha azul claro — superior).

Vejamos que, enquanto o Ibov caiu fortemente e IVVB11 caiu brandamente (devido ao fator câmbio), o Dólar se valorizou fortemente em contraposição à nossa Bolsa.

Veja que, nesta opção, temos apenas uma única variável a nos preocupar:

  • Performance do Dólar (para curto, médio e longo prazo);

Essa é uma opção para quem deseja apenas uma proteção cambial. Das opções listadas é que trará uma influência mais direta ao Dólar. Tira-se o efeito do mercado externo e sensibiliza tão somente a cotação da moeda americana.

Importante ressaltar que, essa proteção não se dará somente quando ocorrerem crises como as que estamos presenciando. Pode ser muito mais que isso, oferecerá proteção também ao risco Brasil e outras crises internas. Quanto maior o risco Brasil, maior será a evasão de Dólar, valorizando a moeda americana;

De qualquer forma, tenha em mente o seguinte: estamos falando aqui de proteção em moeda americana. O valor da moeda do Tio Sam também depende de políticas monetárias dos EUA.

Como eu disponho minha carteira

Atualmente, quando falo em dolarização de carteira, tenho dois tipos de exposição:

  • Proteção cambial;
  • Proteção risco Brasil;

Proteção cambial. Já comentei sobre ela em diversos outros artigos. Trata-se de proteção com Fundo de Investimento Cambial. Atualmente gira em torno de 10% da minha carteira global. Foi extremamente útil nos meses de março e abril de 2020 minimizando as quedas de carteira e possibilitando que pudesse aproveitar vendendo Dólar caro e comprando Bolsa barata.

Proteção risco Brasil. São posições que tenho em companhias americanas visando minimizar o risco Brasil. Atualmente gira em torno de 20% da minha carteira de Ações.

*os valores acima não se tratam de recomendação

Conclusão

Como comentei no início desse artigo, uma opção não exclui a outra. É preciso entender o que impacta cada uma para que tenhamos as melhores decisões.

É valido diversificar em empresas brasileiras que possuam receita em Dólar? Sim, desde que você tenha expectativas na companhia. Mas principalmente tendo em mente que você dependerá da performance da economia brasileira, e que pode ser impactada inclusive de maneira global como vimos recentemente;

É valido diversificar em empresas americanas? Sim, desde que você tenha expectativas na companhia. Tenha em mente que, isso por si só não te protege, pois além do risco da própria empresa, você não estará isento de riscos da economia global bem como do próprio país.

É valido diversificar a carteira com um ETF que segue o índice americano? Sim, desde que esteja ciente que mais do que se proteger do risco Brasil, dependerá da economia americana. Crises também acontecem nos EUA, como visto em 2008.

É valido diversificar a carteira com Dólar? Sim também, principalmente se seu foco for uma proteção mais a curto prazo por fortes stresses de mercado.

Bom, espero ter conseguido ajudá-lo a entender as diferenças de algumas maneiras de dolarizar sua carteira.

Por fim, sou Paulo Boniatti, um forte abraço, até o próximo artigo e tchau!

Escritor, autor do livro Montando uma Carteira de Investimentos Inteligente. Paulo Boniatti é pós-graduado em Gestão em Mercado Financeiro pela FAE Business School. Especialista em investimentos e adepto da filosofia do antifrágil, tem como principal característica a maneira simples e descomplicada de explicar o mercado financeiro. Além de youtuber e criador do canal SaldoZero, é também gestor do Clube de Investimentos Opportuna CI.

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