Quantos ativos ter em carteira – cuidado com a pulverização

Essa é uma questão extremamente importante. Muito se fala sobre a necessidade de diversificação. É o tal do: “não colocar todos os ovos na mesma cesta”. Mas, quantas cestas somos capazes de carregar?

Qual o limite da diversificação? Qual o ponto que ela deixa de ser efetivamente diversificação e se transforma em pulverização.

É isso que vamos ver nesse artigo. Vem comigo!

O que é diversificação

Diversificação é uma estratégia que visa a diluição de risco de uma carteira de investimentos sem sacrificar sua rentabilidade.

Consiste em buscar bem alocar ativos visando um desempenho interessante sem levar o investidor a perdas significativas, algumas vezes até definitivas.

Quanto mais diversificar, melhor?

Baseado nas afirmações anteriores, e sabendo que o ser-humano tem por característica aversão a risco, alguns podem concluir então que, quanto mais se diversifica, mais protegido se está. Certo?

A resposta para isso é: nem sempre.

Risco sistêmico e risco não sistêmico

Para compreendermos melhor os limites da diversificação, precisamos entender o que são risco sistêmico e risco não sistêmico.

Risco sistêmico

Risco sistêmico, ou risco de mercado, é aquele que impacta o mercado como um todo. Exemplo são as grandes crises econômicas.

Você poderia estar investido em todas as ações de empresas americanas, brasileiras e de qualquer outro país que ainda assim não estaria livre do forte impacto sentido nos meses “negros” de 2020. Para esse tipo de risco pouco se pode fazer.

Abrindo um parêntese, nesse sentido entra a importância de se ter uma parte da carteira em caixa para comprar ótimos ativos a preços de “banana”.

De qualquer maneira, é aceitar o impacto e aguardar a poeira abaixar. Foco no longo prazo.

Risco não sistêmico

Do outro lado, temos o risco não sistêmico. Esse risco é decorrente de uma companhia ou de um setor em específico, por exemplo.

Há risco ao se investir no setor de varejo? Com toda certeza. Mas o que acontece se além da varejista, também invistamos em uma companhia do setor elétrico? Supostamente o risco da carteira começou a ser diluído.

Mas, para tudo há um limite.

Harry Markowitz e a teoria de portfólio

Diversos estudos já demonstraram o limite da eficiência de um portfólio diversificado. Harry Markowitz, economista, é uma das figuras mais notáveis sobre esse tipo de estudo.

Vejamos o gráfico a seguir:

Portfólio eficiente

A parte azulada inferior trata-se do risco de mercado (risco sistêmico) que falamos a pouco e que há pouco a se fazer.

A parte branca superior trata-se do risco não sistêmico, risco esse que podemos reduzir por meio da diversificação. Contudo, pela linha azulada, note, quanto mais o número de ativos é incluído na carteira, menor é o benefício da redução do risco.

Vejamos mais um gráfico. Abaixo, pela linha vermelha, é possível notarmos que, a partir de 20 ativos não há uma redução expressiva no risco da carteira.  

Portfólio eficiente – Fonte BecomeaBetterInvestor.net

Qual o número ideal de ativos?

Essa é uma pergunta que não há uma resposta única. A questão é que depende.

Pelo que vimos até o momento, podemos traçar alguns extremos: ter 1 único ativo eleva em demasia o risco da carteira; do outro lado, mais do que 30 possivelmente não haja um benefício evidente.

Algumas questões podem nos fazer refletir ainda mais.

  • Seus atuais compromissos permitem que você tenha condições de acompanhar os resultados anuais ou trimestrais de 30 ou mais companhias? Seja sincero consigo mesmo. Nos dias atuais pode ser muito complicado controlar uma carteira muito grande.
  • Um portfólio extremamente diversificado com 100 ativos e 1% de alocação para cada um. Caso um deles tenha uma valorização de 100%, será algo que lhe deixará mais rico ou que trará um retorno expressivo para o total da carteira? Possivelmente não. Diminui o risco e também o retorno.

Usar a sensatez e ficar em um range que lhe de certa tranquilidade e eficiência pode ser algo sábio. Por quê menos de 10 ativos? Ou, por que mais de 20? Sua carteira necessita disso? Pondere.

Essas são questões que nos ajudam a pensar até que ponto estamos realmente diversificando, ou apenas pulverizando nossa carteira. Nesses casos, será que não é o caso de pensar nos ETFs (Exchange Traded Funds) ao invés de se preocupar em “controlar” uma carteira demasiadamente grande?

Inclua outras classes de ativos na conta

Importante considerar também outras classes de ativos.

Muitos colocam na conta apenas as ações. Pondere juntamente com fundos imobiliários, BDRs, ETFs, ativos de renda fixa, ativos no exterior e outros ativos que por ventura você venha a investir, como criptos por exemplo.

Conclusão

Diversificação é importante, acredito que poucos ousam a discordar. Mas, a diversificação em excesso nem sempre trará o benefício esperado.

No fim das contas, vale sempre aquela máxima: quantidade não é qualidade. Invista para o longo prazo, em ativos de qualidade, e diversifique sem exageros.

Aproveito para mencionar que, assim como esse artigo, diversos outros serão encontrados aqui no portal e no Youtube para ajudar você a investir cada vez melhor.

Espero ter agregado conhecimento.

Por fim, sou Paulo Boniatti, um forte abraço e tchau!

Escritor, autor do livro Montando uma Carteira de Investimentos Inteligente. Paulo Boniatti é pós-graduado em Gestão em Mercado Financeiro pela FAE Business School. Especialista em investimentos e adepto da filosofia do antifrágil, tem como principal característica a maneira simples e descomplicada de explicar o mercado financeiro. Além de youtuber e criador do canal SaldoZero, é também gestor do Clube de Investimentos Opportuna CI.

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