Maneiras de proteger sua carteira de investimentos por meio da exposição ao Dólar

Janeiro de 2019, Dólar cotado a 3,75; janeiro de 2020, Dólar cotado a R$5,00; maio de 2020, Dólar cotado a R$5,91; abril de 2022, Dólar cotado a 4,75; maio de 2022, Dólar cotado a R$5,18 e; hoje, 23 de maio de 2022, Dólar cotado a R$ 4,81.

O que vemos é uma grande montanha russa. A diferença é que esta, não tem fim:

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É inevitável que, de uma forma ou de outra, precisamos proteger nosso patrimônio das incertezas que permeiam a economia e seus impactos na cotação das moedas, seja o Real, quanto o próprio Dólar.

A questão que fica, portanto, é: como dolarizar parte de nossos investimentos e, qual das maneiras é a mais adequada? Bom, são questões como esta que quero ajudar você a responder hoje.

As diferentes maneiras de se expor ao Dólar

Para quem esteja começando, principalmente, não é claro que existem diferentes maneiras de se expor ao Dólar. Dentre elas, as que gostaria de ressaltar hoje são:

  1. Investir em empresas brasileiras com foco em exportação;
  2. Investir em empresas norte-americanas;
  3. Investir em ETFs que se exponham ao mercado internacional;
  4. Investir em Fundo Cambial.

São estas iguais em sua forma? De maneira nenhuma. Ambas opções podem se assemelhar em algumas características, mas podem ter comportamentos bastante diversos, a depender de algumas variáveis.

Vamos falar objetivamente de cada uma.

Investir em empresas brasileiras com foco em exportação

Muitos especialistas citam que, se expor a empresas que possuam parte relevante de suas receitas atreladas ao Dólar, pode ser interessante. Geralmente são empresas de commodities.

A lógica é simples, se o Dólar se valoriza, as receitas destas empresas também tendem a se valorizar acompanhando a cotação da moeda.

Mas, o que muita gente deixa de levar em consideração é que, além, obviamente, da cotação do Dólar poder cair, neste cenário, ter as receitas atreladas a moeda americana, é apenas parte da equação.

Por serem empresas brasileiras, elas dependem, também, da economia e do humor interno. Vejamos a performance da cotação das ações de algumas destas empresas durante o intervalo de janeiro de 2020 até hoje:

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Como podemos observar, nem de longe existe uma paridade na performance delas. Ao entorno da performance da nossa bolsa de valores (linha verde mais larga) temos empresas que surpreenderam, com rentabilidade de mais de 57% (CSN), e empresas, no entanto, com rentabilidade negativa de -62% (BRF).

Além disso, é importante de se observar — círculo maior — a performance da CSN de 2021 até hoje. Este efeito fica melhor visível em um gráfico de 1 ano (abaixo).  A mesma CSN que teve uma rentabilidade interessante, agora, amarga neste período, rentabilidade negativa de -52%, muito aquém dos -11% da nossa Bolsa.

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Aonde quero chegar com estes dados: a única certeza de proteção que teremos com empresas de commodities é que, não teremos proteção.

E por que disto? Simples, como comentei, a exposição destas empresas a moeda norte-americana, é apenas uma das variáveis. Elas dependem, além do dólar, da cotação das commodities as quais produzem, assim como do humor dos mercados, interno e externo.

Em suma, as variáveis que influenciam esta maneira de se expor ao Dólar são:

  • Performance do Dólar;
  • Performance da empresa;
  • Performance da economia brasileira;
  • Performance da economia global.

Não entenda que estas são empresas ruins, não é meu objetivo afirmar isso. Meu objetivo é mostrar que, se você investe em empresas com este tipo de característica, elas podem sim se beneficiar com o Dólar, porém, de nada adianta se as demais variáveis que influenciam suas cotações não colaborarem.

Basta que uma das variáveis reaja negativamente para que, seu objetivo de se beneficiar com o Dólar seja comprometido.

De todo modo, investir neste tipo de empresa, pode ser uma opção de diversificação para longo prazo, dentro de uma carteira que já tenha certa maturidade e robustez. Mas, para quem busca o benefício da proteção cambial propriamente dita, como vimos, nem sempre será melhor opção.

Investir em empresas norte-americanas

A segunda maneira que trago é com relação a investir em empresas norte-americanas. A lógica é estar exposto a cotação destas empresas as quais estão expostas as oscilações do Dólar. Considere tanto as opções por meio das BDRs aqui no Brasil quanto diretamente nas stocks por meio de corretoras americanas.

Abrindo um parêntese, para este estudo trago cotações das BDRs, e não das stocks. O motivo é porque as BDRs possuem sua cotação já sensibilizada pelo efeito cambial. Em suma, meramente para facilitar nosso estudo.

Mas vejamos, ao que tudo indica, em um intervalo de pouco mais de 2 anos, assim como vimos no cenário de empresas brasileiras, também não tivemos uma grande paridade entre as empresas americanas.

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Apesar de, sem exceção, todas terem performado melhor que o índice Ibovespa (linha verde mais larga), ainda assim, temos o exemplo interessante de Facebook, aonde, em 2022 está tendo uma performance muito ruim. Isto fica ainda mais visível em um gráfico de 1 ano. Neste período a empresa amarga uma rentabilidade negativa de mais de -46%.

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Podemos considerar, portanto, investimentos no exterior como proteção? A depender da empresa, não necessariamente.

E por que disto? Simples, se no tópico anterior tínhamos 4 variáveis principais que poderiam impactar a cotação da empresa, aqui temos no mínimo 3:

  • Performance do Dólar;
  • Performance da empresa;
  • Performance da economia global.

Assim como investir em empresas exportadoras brasileiras pode ser uma forma de buscar certa diversificação de longo prazo, investir em empresas americanas pode ser considerado assim.

Podemos entender como uma maneira de diversificar a carteira de forma global — macro —, se protegendo do risco Brasil, mas, sem acreditar que, estará blindado a humores negativos que o mercado de “lá” pode ter sobre si próprio e suas empresas.

Investir em ETFs que se exponham ao mercado internacional

O que podemos dizer então sobre: minimizar variáveis adversas e focar em questões menos imprevisíveis?

Será que se retirarmos as variáveis mercado interno e performance das empresas, teríamos um resultado mais saudável? Ao que tudo indica, sim.

Vamos falar sobre a maneira de se expor a questões cambiais não diretamente por empresas, mas por um mercado inteiro. Neste caso, podemos trazer como exemplo o ETF IVVB11, que replica o índice S&P500 (performance média das 500 maiores empresas norte-americanas).

Vejamos, no mesmo intervalo de pouco mais de 2 anos, tivemos uma performance bastante interessante da bolsa americana, 46% — já convertido pelo Dólar — contra -7% da bolsa brasileira.

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Se incluirmos neste gráfico o índice SPX, ao qual, graficamente falando, não possui o efeito cambial, podemos ver claramente que, este teve uma performance menor ao próprio IVVB11, o que reforça o comportamento deste tipo de ativo sobre efeitos cambias.

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Quando olhamos, no entanto, um intervalo menor — 1 ano —, o que vemos, novamente, é uma falta de caminho claro para aonde caminharão cada um dos ativos. Neste intervalo a performance do ETF americano (IVVB11) teve uma rentabilidade menor se comparado ao nosso índice Ibovespa.

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E, se olharmos em um intervalo ainda menor — 6 meses —, a disparidade só aumenta em favor da bolsa brasileira:

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Fica claro que, nestes casos, o curto prazo é extremamente incerto.

Em suma, e apesar de não termos mais os impactos, nem do nosso mercado interno, tampouco das performances de empresas pontualmente, ainda temos uma variável além do próprio Dólar:

  • Performance do Dólar;
  • Performance da economia global.

Portanto, podemos acreditar cegamente que, investir, de maneira geral, na economia norte-americana, seja proteção? Depende. Como uma forma de diversificação, pode ser quando, queremos fugir do risco Brasil e, acreditamos que a economia americana continuará forte por longos anos.

Mas, mais uma vez, a depender do momento, e principalmente olhando questões de incertezas econômicas de curto prazo, de maneira alguma podemos esperar grandes proteções.

Investir em Fundo Cambial

Como vimos, até o momento, todas as opções possuem uma ou mais variáveis além do simples efeito cambial. Estas variáveis, que fogem ao nosso controle, podem trazer um nível mais alto de imprevisibilidade a quem está simplesmente buscando uma proteção cambial mais “pura”.

Portanto, falaremos agora sobre os fundos cambiais. Não me aterei aos detalhes do que são estes ativos, uma vez que já foi largamente abordado em outros materiais.

Por se tratar o ativo mais próximo as oscilações da moeda, estarei representando-os simplesmente pela cotação do Dólar. Vejamos como foi a performance no mesmo intervalo dos estudos anteriores.

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Chamo sua atenção para o período entre janeiro e julho de 2020 (círculo maior), aonde é visível a forte correlação que existe entre Bolsa brasileira (linha verde maior) e Dólar.

Este é justamente o comportamento que esperamos de algo que tem como objetivo nos proteger de grandes colapsos. Neste caso, estamos falando do ápice da crise por decorrência da pandemia.

De todo modo, em outros momentos o Dólar também se mostrou bastante correlacionado com a Bolsa. Veja em todos os círculos — momentos de grandes incertezas — que, enquanto um subia, o outro caía.

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Agora, o que difere um fundo cambial dos outros ativos que abordamos? Além, logicamente, das variáveis que os impactam, um fundo cambial não é um ativo para lhe enriquecer diretamente — ele definitivamente não tem este poder.

Enquanto investir em empresas — ou índices — pode ter um retorno mais interessante, isoladamente falando, de longo prazo, fundos cambiais, por serem esta proteção mais “pura”, podem servir como aliados durante grandes colapsos econômicos, permitindo que nos aproveitemos de sua rápida valorização para comprarmos ativos que tenham sido exageradamente desvalorizados pelo mercado durante o stress.

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Sugiro, inclusive, que leia este outro estudo aonde comparo uma composição com fundo cambial por diferentes cenários econômicos.

Simploriamente falando, é como se fosse um seguro: você não quer utilizá-lo, mas quando precisar, saberá que ele estará lá para socorrê-lo.

E, é neste sentido, e lembrando-se de grandes nomes como Warren Buffett que nos diz que a primeira regra de um bom investidor é não perder dinheiro e, Nassin Taleb que no diz que, devemos estar antifrágeis, buscando crescer com o caos, que podemos dispor uma parte na carteira para ativos que nos protejam.

Se tomarmos nota que, durante o grande caos de 2020, tanto empresas brasileiras quanto empresas americanas tiveram forte impacto em suas cotações, podemos dizer que, dentre os ativos listados, o Fundo Cambial, tendendo a ser o mais próximo do Dólar puro, é o que mais se aproxima à proteção e oportunidade de crescermos no caos.

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Considerações Finais

Como já mencionei, não é meu objetivo dizer se um ativo é melhor que o outro, mas mostrar que cada um terá um comportamento e um objetivo diferente.

Investir em empresas brasileiras com foco em exportação pode ser uma forma de diversificação de carteira para o longo prazo, mas, dificilmente irá lhe proteger de grandes colapsos econômicos que ocorram de forma inesperada — vulgo Cisnes Negros de Nassim Taleb.

Da mesma maneira pode-se dizer sobre investir em empresas norte-americanas ou seus ETFs. Estes tipos de investimento não terão o poder de lhe proteger, no curto prazo, de grandes imprevistos globais. A depender podem até ter um comportamento indesejado de acordo a economia norte-americana ou com a empresa em específico. Contudo, podem ser boas opções para quem busca minimizar riscos internos, ou seja, não estar tão dependente da economia brasileira, desde que, se acredite no potencial do mercado norte-americano para o longo prazo.

Ambas opções acima, no entanto, não eliminam a necessidade de se ter gatilhos de proteção que funcionem mais rapidamente, como é o caso dos fundos cambiais. Dentro de uma carteira maior, poderíamos dizer que, fundo cambial está mais diretamente ligado a proteção, enquanto os outros tipos, ligados a diversificação.

Uma coisa não tende a excluir a outra, mas juntas podem ser extremamente interessantes.

Quer saber como eu diversifico minha carteira? Assista aos vídeos da Carteira Pública aonde, compartilho na prática, toda minha filosofia de investimentos.

Sucesso e prosperidade sempre.

Paulo Boniatti

Escritor, autor do livro Montando uma Carteira de Investimentos Inteligente. Paulo Boniatti é pós-graduado em Gestão em Mercado Financeiro pela FAE Business School. Especialista em investimentos e adepto da filosofia do antifrágil, tem como principal característica a maneira simples e descomplicada de explicar o mercado financeiro. Além de youtuber e criador do canal SaldoZero, é também gestor do Clube de Investimentos Opportuna CI.

1 comentário em “Maneiras de proteger sua carteira de investimentos por meio da exposição ao Dólar

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