Por que as empresas possuem ações de final 3, 4, 11 ou outras? E, como escolher entre elas?

Se você está começando a investir — ou até mesmo se já investe há algum tempo — deve ter se deparado com a situação de, ao decidir comprar ações de uma empresa, ficar na dúvida entre qual delas optar: as que terminam com 3, 4, 11 ou outra variação entre estes tipos.

Esta é mais uma questão em que o mercado parece querer complicar uma situação que deveria ser simples.

Mas afinal, o que são estes números que complementam os códigos das ações? Será que existe um melhor do que o outro? Bom, é sobre tudo isso que falaremos hoje. Ao final deste artigo você será capaz de entender os porquês destes códigos, além de conhecer um jeito simples de discernir entre eles.

Se este tema lhe interessa, confia e vem comigo.

A evolução do mercado acionário

Sem entrar nos por menores — sejamos simples e objetivos — é importante entender que, o mercado acionário brasileiro veio sofrendo inúmeras evoluções. Dentre estas, ressalto o que chamamos de segmentos de mercado — ou segmentos de listagem.

Segmento de mercado nada mais é que, a empresa se enquadrar dentro de um pacote de regras, e por sua vez, exigências. Entenda como uma coleção que dita regras. Estas, por sua vez, vão impactar diretamente a governança corporativa, transparência e a relação destas empresas com seus investidores.

Dentre estes segmentos, os mais comuns de se ouvirem dizer — não são os únicos — são os famosos N1, N2 e, o mais recente, Novo Mercado.

Com a evolução destes segmentos, houveram também evoluções com relação a quais tipos de ações cada empresa poderia listar para negociação na bolsa de valores. Como exemplo, empresas listadas no Novo Mercado, possuem somente ações do tipo 3, enquanto outros segmentos, podem possuir ações do tipo 3, 4, 11 e até mesmo variações disto, como, 5 e 6, A e B e, assim por diante.

Mas o que são estes códigos?

Assim como temos empresas sendo listadas em diferentes segmentos de mercado, os quais ditam exigências as empresas, podemos ter também, para a mesma empresa — e como já adiantado — códigos de ações com numeral diferente.  

Estes códigos servem para limitar os direitos concedidos a cada investidor. E é aí que entra uma nova terminologia muito conhecida: as ações ON e PN.

Ações ON são aquelas terminadas pelo número 3, ou seja, ITSA3, BBAS3 e assim por diante. Estas ações são do tipo ordinárias e concedem os mesmos direitos dos donos majoritários, inclusive votos em assembleia.

Muita gente, por este fato isolado, tende a preferir este tipo de ação em detrimento a outros. Particularmente falando, tenho uma maneira menos excludente de encarar a situação — compartilharei com você mais à frente.

Voltando, do outro lado, temos as ações PN, as famosas preferenciais, terminadas pelo número 4. Este tipo de ação, geralmente tende a ter preferência no pagamento de proventos (dividendos e juros sobre capital próprio).

O que isso quer dizer? Podemos entender como uma compensação. Por elas não terem alguns direitos, se comparados as ações ON, como é o exemplo do voto em assembleia, é uma maneira da empresa beneficiar este tipo de investidor que optou pelas preferenciais.

Na prática, o que se vê em termos de proventos, geralmente é pouco perceptível. Ambos os tipos tendem a receber algo muito similar, salvo raras exceções.

Mas, na teoria, o que tange a diferença entre ON e PN é: ON lhe dá mais direitos semelhantes aos sócios majoritários e; PN lhe dá maior preferência no recebimento de proventos.

Além das ON e PN, ainda temos uma terceira figura, as UNITs, terminadas com código 11. A mais simples dentre elas, as UNITs nada mais são do que uma cesta composta por ações ON e PN no mesmo balaio.

Uma empresa que decida por ofertar ações UNITs do mercado, decide também pela quantidade de ON e PN que irá compor esta UNIT.

Em suma, o investidor que compra uma ação ON ou PN, leva para casa 1 única ação. Já no caso da UNIT, pode levar algumas ON e PN a depender da composição desta cesta. Desta maneira, seu valor também será mais elevado.

E por fim, ainda podemos ter alguns outros códigos de ações terminados em 5, 6 ou até mesmo A ou B e assim por diante. Quando se deparar com estas, entenda que são pequenas variações das ações PN, ou seja, variações das ações do tipo 4.

De todo modo, estou aqui para facilitar, e não para complicar. Busquei apenas trazer um apanhado para que você tenha um conhecimento maior do que são estas ações terminadas por uma variedade de números.

Na prática, como decidir entre elas?

Em linhas gerais, para o investidor menor, uma das maneiras mais simples de decidir entre os diversos tipos para ações de uma mesma empresa, se dá principalmente por duas variáveis: (1) tag along e; (2) liquidez.

Tag Along. Já falei bastante deste indicador em diversos outros artigos. Em suma é um percentual ao qual a ação lhe concede em termos de direitos semelhantes ao dos controladores da empresa.

Vamos supor que a empresa seja vendida de um controlador para outro a um preço de R$ 50 por ação. Se a ação que você comprou, lhe conceder 100% de tag along, você terá o direito de também vende-la pelos mesmos R$ 50. Se o tag along for de 80%, terá o direito de vender a 80% disso. E, se não tiver tag along, ficará sob o humor do mercado, ou seja, terá o “direito” de vender ao preço que o mercado quiser.

Liquidez. Nada mais é que o volume de negociação de uma ação. Quanto mais ela for negociada no mercado, maior é seu nível de liquidez.

E por que isto é importante? Pense você, em algum tempo, já investindo e, com uma quantidade relevante de ações de uma empresa. Vamos supor que decida vender parte delas, mas que não consiga rapidamente. E por qual motivo não conseguiria? Simples, pela falta de liquidez.

Além do mais, as ações mais líquidas de uma empresa, tendem também ser as mais importantes para o mercado em geral. Não haveria motivo — salvo algo muito específico — para, ao se deparar com ações do tipo 3 e 4, escolher por aquela menos negociada.

Em suma, prefira ficar na zona antes da arrebentação.

Portanto, quando decidir pela compra de ações de uma determinada empresa e, se deparar com mais de um código, uma das maneiras mais simples é, olhar primeiro o tag along entre eles e, posteriormente sua liquidez.

Como descobrir o tag along e a liquidez

Não tenho dúvidas que vão ficar dúvidas de como saber se uma ação tem tag along e qual é sua liquidez. Diversos sites trazem esta informação pronta.

Como exemplo, peguemos um caso no site Status Invest para a empresa Taesa, de códigos TAEE3 (ON – Ordinárias), TAEE4 (PN – Preferenciais) e, TAEE11 (UNITS).

TAEE3 – Fonte: Status Invest
TAEE4 – Fonte: Status Invest
TAEE11 – Fonte: Status Invest

Vejamos acima que, ambas, TAEE3 (ON – Ordinárias) e (PN – Preferenciais) possuem tag along de 100%. Consequentemente a TAEE11 (UNITS) também terá, uma vez que ela nada mais é que uma cesta, neste caso de 1 ON + 2 PN (também visto na última imagem).

Agora, quando falamos de liquidez, veja o campo liquidez média diária entre ambas e me responda: qual é a mais negociada? Em qual dos casos um investidor que já tenha uma quantidade relevante investida teria menos trabalho para vender suas ações?

Acertou quem respondeu ser a UNIT, a de final 11.

Bom, neste caso — e não é recomendação — se eu fosse investir em Taesa, optaria pela 11 e não pela 3, tampouco pela 4. Simples assim.

Considerações finais

Como vimos, apesar de inúmeras siglas e características pouco conhecidas, na verdade, a questão é extremamente simples.

Vou aproveitar o momento e deixar um link, caso você opte por se debruçar sobre as diferenças entre cada um dos segmentos de listagem e, o que eles concedem a cada tipo de ação.

Espero ter agregado mais um pouco de conhecimento.

Sucesso e prosperidade sempre.

Paulo Boniatti

Escritor, autor do livro Montando uma Carteira de Investimentos Inteligente. Paulo Boniatti é pós-graduado em Gestão em Mercado Financeiro pela FAE Business School. Especialista em investimentos e adepto da filosofia do antifrágil, tem como principal característica a maneira simples e descomplicada de explicar o mercado financeiro. Além de youtuber e criador do canal SaldoZero, é também gestor do Clube de Investimentos Opportuna CI.

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