Quando vender uma ação?

Hoje o artigo é voltado para responder a uma dúvida de inscrito. A seguinte dúvida me foi enviada via Youtube:

[…] Boni, tenho uma dúvida recorrente.

Minha estratégia é buy and hold. Mas, de tempos em tempos, analiso minha carteira e vejo que, se tivesse vendido algumas ações (limitados aos 20 mil mensais) teria me dado bem.

A dúvida: Qual momento em que devemos fazer vendas na carteira e investir em novos ativos? […]

Imagino que esta dúvida não seja um caso isolado. E, apesar de já ter desenvolvido um outro artigo (e vídeo) abordando este tema, certos temas precisam ser constantemente revistos. Afinal, o aprendizado é eterno.

Portanto, se você também tem a sensação de que a venda de uma ação teria sido um fator positivo, ou que, não sabe o momento de vender suas ações, espero poder te ajudar.

O mundo real nos ensina

Sou propenso a afirmar que, a grande maioria das pessoas que começam a investir em bolsa de valores, tendem a se desconectar da realidade.

Não veja isso como algo pejorativo, mas como algo a nos fazer refletir. Peço sua atenção para esquecer, neste momento, um pouco as bolsas de valores e, se concentrar em algo mais palpável.

Vamos supor que você seja um empregado de uma empresa qualquer. Mensalmente recebe seu salário. Anualmente recebe férias e outros benefícios.

Vamos supor também que, surge então uma oportunidade excepcional: a chance de comprar uma loja, de ser seu próprio patrão e, assim, não precisar mais trabalhar como empregado. Peço que você imagine o melhor negócio da sua vida, é importante.

Então lhe pergunto: por qual motivo você deixaria este seu emprego, supostamente seguro, para embarcar neste novo projeto de ser seu próprio patrão?

Imagino que acima de tudo, uma decisão desta envolva liberdade. Contudo, liberdade por si só não basta. É preciso que tudo isto venha ligado a segurança financeira, em outras palavras, responsabilidade.

Posso entender que você não mudaria de “barco” se não houvesse um mínimo de segurança. E qual seria esta segurança? De ter um fluxo de receita minimamente semelhante — de preferência superior — ao que se tem como um empregado.

Mas, vamos supor que, esta loja ao qual você está adquirindo, realmente lhe de a oportunidade de gerar receita, não somente igual ao que se tinha como empregado, mas muito superior.

E nesta nova fase de vida, você se vê muito feliz e satisfeito com os resultados. Tem uma verdadeira galinha dos ovos de ouro, ao qual, recorrentemente lhe permite auferir lucros extremamente satisfatórios.

Se você tivesse realmente vivendo tudo isso, você venderia esta loja? Vamos pensar: você tem um ativo em mãos capaz de suprir suas necessidades folgadamente, permitindo que você tenha uma vida nunca antes pensada em sua fase de empregado. Você abriria mão de tudo isto?

Suponho que não. Ou, se supor que sim, que você venderia, seria se alguém lhe pagasse um valor muito alto, afinal, você sabe a importância e o valor deste empreendimento.

Voltemos ao mundo menos real

Após esta breve estória, voltemos ao mundo “menos real”: as bolsas de valores. Bem na verdade, são ativos bastante reais, mas ao que parece, para a grande maioria, não são.

Qual seria a diferença entre comprar uma loja e comprar uma ação de uma empresa? Não deveria ter diferença alguma, salvo os meios desta compra.

O que difere uma loja de bairro para uma rede de lojas listadas na bolsa? Salvo o tamanho, nada. Talvez a maneira que a empresa remunera seus donos — os acionistas.

Algumas empresas vão preferir reter maior parte do lucro para reinvestimento. Outras, vão preferir distribuir maior parte dos lucros, por não acreditarem em crescimento. Nada diferente ao que um dono de loja de bairro faria: reinvestir ou distribuir o lucro.

Portanto, por quais motivos alguém que investe em ações para o longo prazo, com a mentalidade de dono, deveria vender uma ação em carteira? É isto que vamos ver agora.

Primeiro motivo: perda de fundamentos

Uma das grandes dificuldades que vejo em quem está começando — e de gente até com mais tempo — envolve empresas sem qualquer fundamento.

Voltando ao nosso exemplo da loja — e agora você vai entender o porquê de tamanha alusão —, você teria abandonado seu emprego e a adquirido se fosse uma loja ruim, sem qualquer condição de geração de lucro? Obviamente que não.

A grande maioria dos investidores de bolsa não estão atentos aos pilares que envolvem a seleção de boas empresas. Pilares estes que detalho em outro artigo: Como selecionar empresas incríveis na Bolsa de Valores de maneira extremamente simples.

Mas, de maneira geral, quais seriam os pilares?

  • Lucratividade
  • Endividamento
  • Crescimento
  • Governança
  • Preço

Ao se comprar uma ação de uma empresa que tenha altíssima lucratividade, baixo endividamento, crescimento constante e ótima governança, você a venderia a qualquer preço? Na vida real, definitivamente não. E assim teria de ser também na bolsa.

Mas, quando o que o ocorre com a maioria é a compra de empresas sem fundamentos, qualquer oscilação no preço das ações pode ser motivo de dúvidas:  

  • Será que devo vender? Mas e se continuar a subir?
  • Será que devo segurar? Mas e se cair?

Veja que, são dúvidas de quem não está seguro com a loja de bairro que foi comprada. Ao contrário, é alguém que não investiu pensando no lucro e na geração de caixa.

É alguém que comprou pensando somente se, outro alguém, poderá desejar comprar aquela mesma loja, tempos depois, por um preço maior, e assim se lucrar com a diferença entre a compra e a venda. Isto, não é seguir o Buy & Hold — estratégia de comprar e segurar uma ação para o longo prazo olhando principalmente para a qualidade do ativo.

Agora, se a compra se deu por uma empresa realmente de qualidade, mas, se esta empresa deixou de ser rentável, se aumentou sua dívida de maneira extremamente arriscada, se já não tem um crescimento constante e, se a Governança vem colocando o negócio em risco, você deveria vender?

Se você está certo, e acredita que estes problemas sejam irreversíveis, é de se considerar a possibilidade. Este seria o primeiro motivo de uma possível venda: a perda de seus fundamentos.

Segundo motivo: tamanho de posição

Já abordei em diversos outros materiais que, no longo prazo, o preço de uma ação tende a seguir lucro a patrimônio da empresa.

Este ponto vem em complemento ao ponto anterior abordado. Se a empresa que você comprou, observado todos os pilares, realmente tem qualidade, ela se valorizará mais no longo prazo, seguindo o crescimento de seu lucro e do seu patrimônio.

Isto quer dizer que, com o tempo, uma empresa em sua carteira de investimento poderá se valorizar a ponto de se tornar uma posição extremamente concentrada. Isto é, muito grande em carteira.

Neste sentido, e tendo em mente que, nenhuma árvore crescerá até o céu — salvo a do pé do João —, podas pontuais podem ser interessantes.

A isto chamamos de rebalanceamento de carteira, aonde, posições que cresceram muito podem ter vendas pontuais e, o capital resultante da venda pode ser destinado a posições menores que tenham se valorizado menos, desde que, estas também tenham qualidade.

Sugiro a leitura: Porque, como e quando rebalancear uma carteira de investimentos.

A falácia do “poderia ter vendido antes da queda”

Apesar de tudo o que falei, e espero que para você tenha ficado claro, ainda há quem fique com aquela sensação de: eu poderia ter vendido antes da queda.

Não quero ser redundante, mas esse é pensamento, novamente falando, de quem não comprou uma empresa, mas comprou apenas um pedaço de papel torcendo para se valorizar.

Posso dizer isso quando, ao se comprar parte de uma empresa de extrema qualidade, olhando para o negócio e sua geração de lucro e, perceber queda no preço de suas ações, vamos tender a querer comprar mais, e não nos preocupar com os motivos por não termos vendido antes.

Ademais, ao se vender uma posição supostamente em alta, quem é que garante que ela não continuará se valorizando? Ninguém tem este poder.

Agora, por outra lado, sabe “quem” é que vai lhe garantir que uma empresa de qualidade vai se valorizar no longo prazo? Esta é simples de responder: seus fundamentos.

Considerações finais

Para concluirmos, se você está comprando um pedaço de papel torcendo para se valorizar, só posso dizer uma coisa: boa sorte.

Mas, se você está comprando uma empresa geradora de lucro, com baixo endividamento, de crescimento constante, com ótima governança a preços coerentes, tenha paciência, feche o home broker, pare de ficar olhando o preço a todo instante e, deixe o tempo agir, ou melhor, deixe sua empresa crescer.

No mais, o que lhe desejo é: menos especulação e mais investimento.

Sucesso e prosperidade sempre,

Paulo Boniatti

Escritor, autor do livro Montando uma Carteira de Investimentos Inteligente. Paulo Boniatti é pós-graduado em Gestão em Mercado Financeiro pela FAE Business School. Especialista em investimentos e adepto da filosofia do antifrágil, tem como principal característica a maneira simples e descomplicada de explicar o mercado financeiro. Além de youtuber e criador do canal SaldoZero, é também gestor do Clube de Investimentos Opportuna CI.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *